Operação Barbarossa: o início do fim do nazi-fascismo

Gustavo Carneiro

A invasão da URSS foi a maior operação militar da História

Na madrugada de 22 de Junho de 1941, os exércitos nazi-fascistas cruzaram a fronteira soviética, dando início à designada Operação Barbarossa. Como notou Adam Tooze, professor de História Económica nas universidades de Cambridge e Yale, a invasão da União Soviética constituiu a «maior operação militar única de que há registo histórico (...) Nunca, nem antes nem depois, se travou batalha com tanta ferocidade, por tantos homens, numa frente de batalha tão extensa.» Nela estiveram envolvidos, do lado dos agressores, 5,5 milhões de homens, 47 mil canhões, 4300 tanques e 5000 aviões – cinco a seis vezes mais do que as forças que defendiam os limites da pátria socialista.

A violência e amplitude do ataque, para mais desferido de surpresa, resultou em êxitos iniciais para os nazi-fascistas, que em poucos meses ocupavam vastos territórios da Ucrânia, Crimeia, Bielorrússia e Rússia, cercavam Leninegrado e tinham Moscovo a poucos quilómetros. Em Berlim, reinava o optimismo: o Alto Comando esperava alcançar em poucas semanas uma vitória total e definitiva.

Nos campos de batalha, porém, não havia grandes motivos para celebrar. Ao contrário da ocupação da Europa ocidental e central, concretizada sem oposição visível e com baixas reduzidas, na União Soviética as forças hitlerianas depararam-se pela primeira vez com uma tenaz resistência. Logo a 29 de Junho, ao sétimo dia da invasão, o chefe do estado-maior das tropas terrestres alemãs reconhecia que «os russos combatem em toda a parte até ao último homem». Em privado, o próprio ministro da propaganda do Reich, Joseph Goebbels, era forçado a concordar: o conteúdo do seu diário contrastava com os sonantes discursos públicos, plenos de confiança numa vitória rápida. Se a 2 de Julho garantia que «não se pode de modo algum falar em passeio» e que o «regime vermelho mobilizou o povo», no início de Agosto ia mesmo mais longe, realçando que «no quartel-general do Fürher (...) abertamente se admite também que se errou um pouco na avaliação da força militar soviética. Os bolcheviques revelam uma resistência maior do que a que supúnhamos.»

De facto, só no primeiro mês da invasão à URSS, os nazi-fascistas perderam mais de 110 mil homens e quase metade das suas unidades de tanques e motorizadas. O rápido avanço inicial por território soviético, que chegou a ser de dezenas de quilómetros diários, foi perdendo fulgor, até cessar por completo: ao fim da blitzkrieg (guerra relâmpago) seguiu-se a primeira derrota em toda a guerra, junto a Moscovo, ainda o ano de 1941 não tinha terminado.

Do aniquilamento à derrota

Com a agressão à União Soviética, os nazi-fascistas visavam alargar o propalado espaço vital (para os monopólios alemães, é certo), aceder às riquezas energéticas do Cáucaso e abrir caminho para as possessões britânicas da Ásia Central. Mas a destruição do primeiro Estado socialista do mundo era, em si mesmo, um objectivo: Hitler dissera-o abertamente no seu Mein Kampf, ao apontar o combate ao comunismo como «razão de ser» do nacional-socialismo.

A guerra contra a URSS – foi também Hitler quem o afirmou – visava o aniquilamento do Estado soviético e o extermínio e escravização do seu povo. O mínimo gesto de resistência deveria ser castigado com a morte e as principais cidades varridas da face da Terra. As instruções foram escrupulosamente seguidas: dois milhões de prisioneiros de guerra soviéticos (dois terços do total) foram assassinados e muitos outros escravizados.

Mas a História não terminava aqui. A superioridade do sistema socialista, a capacidade de liderança do Partido Comunista e o patriotismo do povo soviético viraram o curso da guerra e forçaram a capitulação, no coração do Reich. O preço? 14 mil mortos por dia. Nunca lhes seremos suficientemente gratos.




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