Paz para a Líbia sem ingerências
Acompanhando alterações militares no terreno, há novas propostas de cessar-fogo e de negociações para pôr fim à guerra na Líbia.
O presidente egípcio, Abdel Fattah El-Sisi, e o chefe do Exército Nacional da Líbia, Khalifa Haftar, apresentaram no dia 6, no Cairo, uma iniciativa para acabar com o conflito. Prevê a instauração de um cessar-fogo imediato e defende a retirada de «mercenários estrangeiros» e o desmantelamento das facções armadas, processo que deverá incluir um mecanismo de desarme, resume o jornal egípcio Ahram. A ideia é fomentar uma saída negociada para a confrontação, mediante um «diálogo Líbia-Líbia» entre as principais forças beligerantes, sem interferências estrangeiras.
À cimeira entre El-Sisi e Haftar assistiu o presidente do parlamento baseado em Tobruk, Aquila Saleh.
Em Ankara, dois dias antes, Fayez al-Sarraj, chefe do Governo de Acordo Nacional, com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU, afirmou que não tenciona negociar com Haftar, que considera estar a «cometer crimes de guerra». Na capital turca, Sarraj manteve conversações com o presidente Recep Erdogan, seu aliado, e prometeu continuar a combater o marechal.
Por outro lado, a Rússia anunciou que trabalha para conseguir um cessar-fogo na Líbia. Uma delegação do governo de Trípoli reuniu-se, no dia 3, em Moscovo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguéi Lavrov. A Rússia, que desmente apoiar Haftar, afirma que «está em contacto com todas as forças políticas líbias», tendo em vista o fim dos combates e o início de negociações.
Já a ONU confirmou a retoma próxima, em Genebra, das sessões do comité militar «5+5», com representantes das duas partes, visando alcançar um cessar-fogo.
Depois da agressão dos Estados Unidos e aliados da NATO, em 2011, a Líbia afundou-se no caos. Hoje, há duas facções dominantes: o parlamento em Tobruk, que controla a parte oriental do país e conta com o exército comandado por Haftar; e o executivo chefiado por al-Sarraj, com sede em Trípoli, no Noroeste do território, avalizado pelas Nações Unidas.
A situação militar no país norte-africano agravou-se em 2019, quando as forças de Haftar lançaram uma ofensiva contra Trípoli. Al-Sarraj assinou então um acordo com a Turquia, que enviou armas, «assessores» e tropas, a troco de negócios na área do petróleo e gás.
Na semana passada, al-Sarraj anunciou vitórias militares sobre as forças de Haftar: o controlo do aeroporto de Trípoli e das entradas da capital, a tomada de Tarhuna e a ofensiva sobre Sirte, cidade estratégica entre o Oeste e o Leste da Líbia.
Os protagonistas directos da guerra líbia – o governo de al-Sarraj, suportado pela Turquia, e as forças de Haftar, apoiadas pelo Egipto e Emiratos Árabes Unidos – voltam, pois, a falar de cessar-fogo e de solução negociada sob a égide da ONU. Assim como os principais responsáveis pela intervenção da NATO e destruição do Estado líbio em 2011 – Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, que hoje continuam a apostar na guerra e nos negócios e a manobrar de acordo com os seus interesses, apoiando ora uma, ora outra facção, e às vezes ambas.
Mas uma solução política, pacífica e justa só poderá ser alcançada com o fim das ingerências estrangeiras e com o assumir pelo povo líbio da sua soberania, retomando os caminhos do desenvolvimento e do progresso interrompidos há quase uma década.