Grandes empresas devem assumir maiores responsabilidades

ESTRATÉGIA As maiores empresas do complexo industrial de Sines decidiram passar muitas áreas para a subcontratação. Igualmente a bem do lucro maior, recorrem agora às verbas da Segurança Social.

Despedimentos e lay-off coexistiram com a distribuição de milionários dividendos

A Petrogal (Grupo Galp Energia), a EDP, a Repsol e o porto de Sines destacam-se como maiores empregadores no concelho de Sines e na região. Nas declarações de dirigentes à comunicação social e nas breves intervenções sindicais, no final da marcha, foram-lhes acometidas especiais responsabilidades na resposta ao problema social que, afinal, foi provocado pela sua estratégia de recurso alargado à subcontratação (outsourcing), como forma de aumentar a exploração dos trabalhadores.

Tal como o SITE Sul tem salientado, foi apontado no dia 21, por várias vezes, o contraste entre a forma como as grandes empresas tratam os trabalhadores da manutenção, neste caso, e a generosa distribuição de dividendos aos accionistas, no mês passado:

– a EDP decidiu pagar 694,74 milhões de euros, relativos a 2019, ainda que neste ano os lucros consolidados tenham sido de 511,7 milhões;

– a Galp confirmou distribuir 577 milhões de euros (acrescentando 314,7 milhões aos 262,25 milhões pagos em Setembro), o que representou mais 10 por cento do que no ano anterior, apesar de os resultados terem caído 21 por cento nesse período.

Pedro Carvalho exigiu que seja revertida «esta situação que estamos a viver no Litoral Alentejano», onde «empresas como a Petrogal, que têm muitos milhões de euros de lucros anuais, afinal de contas, despedem trabalhadores, desbaratam pessoas». Perante os «lay-off selvagens, despedimentos selvagens», «temos de valorizar o nosso trabalho», porque «os trabalhadores são os que produzem a riqueza».

Luís Leitão defendeu que «a Petrogal pode e deve admitir estes trabalhadores, tal como a Repsol, a EDP». «Admitam os trabalhadores novamente», pois «estas empresas vão todas produzir, têm muito dinheiro», «podem empregar este pessoal e não causar mais problemas à Segurança Social, a Sines, a estes trabalhadores e às suas famílias».

Aos jornalistas, Jerónimo de Sousa também tinha salientado que «a Petrogal vai continuar a necessitar da reparação, da revisão de material, o trabalho continua a justificar-se». Para o Secretário-geral do PCP, «a ACT deve verificar não só a legalidade, mas a moralidade de uma empresa desta envergadura usar este subterfúgio, através de uma empresa de trabalho temporário, para afastar muitos trabalhadores».

Precariedade
é isto

Isabel Camarinha, ao intervir no final da marcha, lembrou que «em 2019 o nosso País tinha 850 mil trabalhadores com contratos não permanentes», para observar que, na situação que se vive em Sines, «está bem evidente como as empresas aproveitam este vínculo frágil para mandar embora os trabalhadores no primeiro momento em que se querem ver livres deles».

«Isto não é aceitável» e devem ser «revertidos todos os despedimentos dos trabalhadores com vínculos precários que aconteceram neste período», a pretexto da pandemia.

Além disso, acrescentou a Secretária-geral da CGTP-IN, «há quase um milhão de trabalhadores em lay-off, a receber menos um terço do seu salário», sendo que «mais de metade das grandes empresas (com mais de 250 trabalhadores) estão em lay-off, usando verbas da Segurança Social».

«Estas grandes empresas têm todas as condições para garantir a totalidade do salário dos trabalhadores, mas estão a aproveitar-se deste momento e das medidas “de apoio ao emprego” que foram aprovadas, para reduzirem salários aos trabalhadores e, ao mesmo tempo, ser a Segurança Social a pagar 70 por cento dos dois terços» da remuneração que aqueles auferem.

Para a CGTP-IN, «isto é inaceitável e imoral», «estas empresas tinham obrigação de contribuir para ultrapassarmos esta situação com uma actividade económica, com retribuições dos trabalhadores que permitam consumo».

«Não são estas as opções do Governo, mas são estas as opções que nós continuamos a reivindicar», afirmou Isabel Camarinha.

 

Esta calamidade exige resposta

O SITE Sul tinha já alertado para o perigo de uma calamidade social, com o despedimento de cerca de 600 trabalhadores. Mas, avisava o sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN, quando convocou um plenário para dia 4, no Jardim das Descobertas, o número poderia ser muito superior.

No Centro de Emprego de Sines tinha havido um aumento, sem precedentes, de 700 inscritos, e muitos dos despedidos não terão feito o seu registo, sabendo que não tinham condições para receber subsídio de desemprego.

Em causa estão operários especializados da manutenção industrial (montadores de andaimes e isolamentos, nomeadamente), que há muitos anos, através de empresas subcontratadas, são chamados a intervir em paragens programadas ou na manutenção regular das grandes instalações do complexo industrial e do porto de Sines.

A precariedade dos vínculos laborais estende-se impunemente até ao ilegal «trabalho à hora».

Para exigir melhores condições, iniciou-se um trabalho de sindicalização e organização, que teve expressão nos plenários de 19 de Fevereiro, no salão da Música Sineense, e de 3 de Março, na portaria da refinaria. Devido à emergência sanitária, foi adiada uma acção marcada para 3 de Abril.

No plenário de 4 de Maio, foram definidas as reivindicações para a marcha de dia 21, incluindo: defesa do emprego; readmissão de todos os trabalhadores despedidos; fim da precariedade, com a passagem de todos os trabalhadores a efectivos nas várias empresas; atribuição do subsídio de desemprego a todos os trabalhadores, sem qualquer excepção; termo da discriminação no valor da hora de trabalho, com actualização para 21,00 euros.

 



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