Mais ingerências na Líbia

Carlos Lopes Pereira

A Turquia anunciou a morte de dois militares turcos na Líbia. Ampliam-se assim, ainda mais, as ingerências estrangeiras no Estado norte-africano, destruído desde 2011 pela agressão militar da NATO e a partir daí palco de múltiplas intervenções externas e conflitos internos que arruínam aquele que foi um dos países mais desenvolvidos da África.

Foi o próprio presidente Recep Erdogan, numa conferência de imprensa, na terça-feira, 25, em Ankara, quem confirmou as primeiras baixas turcas em solo líbio.

Há algumas semanas, a Turquia enviou tropas para a Líbia em socorro do Governo de Acordo Nacional (GAN), de Fayez al-Sarraj, baseado em Trípoli, apoiado pelo Qatar, entre outros países, e reconhecido pelas Nações Unidas. Os turcos ameaçaram permanecer na Líbia «até à estabilização» da situação.

Al-Sarraj e aliados enfrentam na capital uma ofensiva das forças de Khalifa Haftar, chefe do exército ligado ao parlamento baseado em Tobruk, no leste da Líbia, e apoiado por adversários da Turquia, nomeadamente, Egipto e Emiratos Árabes Unidos.

Além de militares turcos enviados para a Líbia, alegadamente para «treinar» as forças do GAN, Ankara despachou para o país norte-africano, com o patrocínio dos Estados Unidos, algumas centenas de mercenários retirados da Síria, onde tinham sido derrotados pelo exército sírio.

Turquia e GAN, a par da aliança militar, assinaram recentemente um controverso acordo de delimitação marítima que «autoriza» Ankara a reivindicar uma zona rica em hidrocarbonetos no Mediterrâneo oriental.

Erdogan, envolvido em várias guerras – no seu próprio país, contra os curdos; na Síria, também contra os curdos e apoiando bandos que combatem o governo constitucional de Damasco; e, agora, na Líbia – justificou o seu apoio a Al-Sarraj não por causa do petróleo mas em nome da luta contra o ressurgimento de organizações terroristas.

Citado pela imprensa, o presidente turco escreveu no sítio web Político, a 18 de Janeiro, na véspera da conferência internacional de Berlim sobre a Líbia, um artigo em que considera que «a Europa enfrentará uma nova série de problemas e de ameaças se o governo legítimo líbio cair». Isto porque «as organizações terroristas como o “Estado Islâmico” e a Al-Qaida, derrotadas militarmente na Síria e no Iraque, encontrarão ali um terreno fértil para ressurgirem». Pelo que, considera Erdogan, «deixar a Líbia à mercê de um senhor da guerra seria um erro de dimensão histórica».

A ofensiva desencadeada em Abril de 2019 contra Trípoli pelas forças de Khalifa Haftar terá já causado milhares de mortos e deslocados. Desde 12 de Janeiro está em vigor uma frágil trégua, alcançada com mediação da Rússia e Turquia. As facções de Al-Serraj e Haftar aceitaram criar uma comissão militar conjunta, que tem mantido reuniões em Genebra, com mediação da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (Unsmil). Chegaram já a acordo sobre uma proposta de cessar-fogo, prevendo-se nova reunião para Março.

«Graças» às múltiplas agressões e ingerências externas, da NATO em 2011 à Turquia hoje, e aos interesses das potências mundiais e regionais, a Líbia é um problema internacional. Como defende a União Africana, só uma solução política poderá garantir a paz, independência, unidade e integridade territorial do país.



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