Manifestações populares exigem mudanças no Haiti

A oi­tava se­mana se­guida de pro­testos anti-go­ver­na­men­tais no Haiti co­meçou na se­gunda-feira, 4, com um re­co­lher obri­ga­tório «de­cre­tado» na vés­pera por sec­tores da opo­sição, pe­dindo à po­pu­lação para se manter em suas casas. Bar­ri­cadas de pneus, cortes de es­tradas, di­mi­nuição dos trans­portes co­lec­tivos e pa­ra­li­sação das ac­ti­vi­dades eco­nó­micas mar­caram a jor­nada em Pu­erto Prín­cipe e ou­tras ci­dades do país ca­ri­benho.

André Mi­chel, porta-voz da Al­ter­na­tiva Con­sen­sual para a Re­fun­dação do Haiti, opo­si­tora ao go­verno, anun­ciou um re­co­lher obri­ga­tório, a partir das 19 horas, e o lan­ça­mento de um «as­salto de­mo­crá­tico», es­cla­re­cendo que os ma­ni­fes­tantes iriam ocupar as ins­ti­tui­ções pú­blicas.

Desde há meses que o Haiti vive uma ra­di­ca­li­zação da crise sócio-po­lí­tica, a mais pro­funda desde a queda da di­ta­dura (1986), as­se­guram os pe­ritos, com cen­tenas de mi­lhares de pes­soas a ma­ni­festar-se por uma mu­dança de sis­tema que per­mita a re­dis­tri­buição mais equi­ta­tiva dos re­cursos na­tu­rais.

Com cerca de 11 mi­lhões de ha­bi­tantes, o Haiti par­tilha a ilha de São Do­mingos com a Re­pú­blica Do­mi­ni­cana e é um país mar­cado por pro­fundas de­si­gual­dades e po­breza. Os 20% mais ricos da po­pu­lação pos­suem 64% da ri­queza, en­quanto os 20% mais po­bres têm menos de um por cento.

As ma­ni­fes­ta­ções po­pu­lares que pa­ra­lisam há dois meses es­colas, co­mércio, trans­portes, a maior parte das ac­ti­vi­dades eco­nó­micas, não rei­vin­dicam apenas mais em­pregos e me­lhores sa­lá­rios ou a queda do go­verno mas re­clamam ci­da­dania e so­be­rania.

Opo­sição pre­tende
nova Re­pú­blica

No início desta se­mana, uma vin­tena de par­tidos po­lí­ticos e or­ga­ni­za­ções so­ciais, reu­nidos no Bloco De­mo­crá­tico para um Ajuste Na­ci­onal, pro­pu­seram a cri­ação de um Con­selho de Es­tado para su­per­vi­si­onar a acção go­ver­na­mental e so­lu­ci­onar a forte crise que atinge o Haiti.

Ex­pres­saram a sua pre­o­cu­pação pela si­tu­ação po­lí­tica do país, com um pre­si­dente «de­bi­li­tado» e uma opo­sição com o mé­rito de mo­bi­lizar grande parte da po­pu­lação mas que até agora não con­se­guiu der­rubar o chefe do Es­tado, Jo­venel Moise. Os ma­ni­fes­tantes exigem, além do afas­ta­mento do pre­si­dente, a dis­so­lução do par­la­mento e a mu­dança do sis­tema po­lí­tico ba­seado na cor­rupção, na de­si­gual­dade, na ex­clusão, na im­pu­ni­dade.

O novo Bloco De­mo­crá­tico in­siste nas ne­go­ci­a­ções entre par­tidos po­lí­ticos, sector em­pre­sa­rial, igrejas, e or­ga­ni­za­ções so­ciais tendo em vista formar um go­verno de ex­cepção, com um pe­queno ga­bi­nete mi­nis­te­rial e sem pri­meiro-mi­nistro. Entre as ac­ções ur­gentes, propõe levar a tri­bunal o desvio de fundos pú­blicos, in­ves­ti­ga­ções sobre a vi­o­lação de di­reitos hu­manos, in­cluindo mas­sa­cres, a re­visão e con­trato entre o es­tado e di­versas com­pa­nhias e a re­dução do custo de vida. O grupo pre­tende também a re­a­li­zação de uma Con­fe­rência Na­ci­onal So­be­rana para de­finir a nova Re­pú­blica, re­o­ri­entar a vida eco­nó­mica e so­cial e or­ga­nizar opor­tu­na­mente elei­ções ge­rais.

No âm­bito da crise po­lí­tica e so­cial, es­tima-se que, desde me­ados de Se­tembro, pelo menos dois mi­lhões de cri­anças não podem ir à es­cola, vá­rias em­presas fe­charam as portas e re­ducem pes­soal, e cresce a in­se­gu­rança ali­mentar que atinge quase três mi­lhões de hai­ti­anos.

O pre­si­dente Jo­venel Moise, apoiado pelos Es­tados Unidos e União Eu­ro­peia, re­cusa-se a aban­donar o cargo e de­clarou re­cen­te­mente que a sua re­núncia au­men­taria a in­se­gu­rança no Haiti.




Mais artigos de: Internacional

Manifestações no Chile reprimidas com violência

 

RE­PRESSÃO Pros­se­guem no Chile os pro­testos po­pu­lares contra as po­lí­ticas ne­o­li­be­rais do pre­si­dente Piñera e con­tinua também a vi­o­lenta re­pressão dos ma­ni­fes­tantes pelas forças po­li­ciais e mi­li­tares.


PCP saúda Partido Comunista da Argentina e o povo argentino

O PCP saudou o Partido Comunista da Argentina pela vitória alcançada pela coligação eleitoral Frente de Todos, no passado dia 27 de Outubro, considerando que esta vem devolver a esperança aos trabalhadores e ao povo argentino, vítimas das violentas políticas neoliberais, de brutal retrocesso social e ao saque, impostas...

PCP solidário com o povo da Bolívia

O PCP expressou, numa nota divulgada no dia 5, a solidariedade com o povo boliviano «perante a violência e desestabilização golpista desencadeada pelas forças reaccionárias», com a intenção de desrespeitar os resultados das eleições de 20 de Outubro, que determinaram a reeleição de Evo Morales como presidente do Estado...

Povo da Guiné-Bissau escolherá o seu futuro

Nas eleições presidenciais de 24 deste mês, na Guiné-Bissau, o que está em jogo «não é uma decisão sobre candidatos, é a decisão sobre a nossa vida, sobre o nosso futuro». As palavras de Domingos Simões Pereira, líder e candidato do PAIGC, num comício em Bissau, no início desta semana, traduzem bem a importância...