Manifestantes no Líbano exigem fim do actual regime
Os protestos anti-governamentais no Líbano prosseguiram na terça-feira, 22, pelo sexto dia consecutivo, apesar de o governo libanês ter recuado e aprovado medidas exigidas pelos manifestantes. Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas, para protestar contra a deterioração das condições de vida, a corrupção e a crescente crise económica. Os alvos são o governo, liderado pelo primeiro-ministro Saad Hariri, e o parlamento libanês.
Os protestos começaram contra a proposta de orçamento do Estado para 2020 – entretanto retirada –, que pretendia aumentar os impostos. Da condenação inicial dessa «austeridade», as exigências populares passaram para a reivindicação da renúncia dos governantes e da realização de eleições.
«O levantamento popular nas cidades e vilas do Líbano representa uma mudança muito significativa no carácter da política libanesa», afirmou Omar El Deeb, secretário para as relações internacionais do Partido Comunista Libanês.
Em declarações ao jornal Morning Star, o dirigente comunista libanês considerou que já não são apenas protestos contra a subida de impostos. Face à violenta repressão das forças policiais, transformaram-se em protestos contra o governo e contra o regime como um todo. «Há agora uma exigência massiva do fim do regime sectário de poder partilhado que se mantém desde o fim da guerra civil, nos começos da década de 1990», explicou.
Desde essa altura, as eleições realizam-se com base em listas representando as diferentes comunidades religiosas, cada uma delas mantendo as suas estruturas políticas e forças paramilitares ou milícias. Durante quase três décadas, estes grupos governaram em conjunto e os seus líderes enriqueceram juntos, associando-se aos que controlam os bancos e as indústrias do Líbano.
O Partido Comunista do Líbano manteve-se sempre fora destes arranjos. Embora sejam historicamente uma força muito significativa na política libanesa e tenham desempenhado um papel importante na luta contra a invasão israelita do sul do Líbano em 2006, os comunistas libaneses, pela sua natureza de classe e não-sectária, têm sido excluídos do parlamento do país.
Salientando que a resistência nas ruas prossegue, com a participação dos comunistas libaneses, Omar El Deeb realçou que «está a reforçar-se a unidade de classe no seio dos trabalhadores, uma unidade que aumentará à medida que a crise económica se intensificar».