URAP reclama condenação política do «Museu Salazar»

LIBERDADE A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) está a promover uma petição de «repúdio» e «exigência» para que, no início da legislatura, se trave e abandone a anunciada criação do «Museu Nacional», com esse ou outro nome.

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O documento tem como primeiros subscritores cidadãs e cidadãos, democratas de diferentes sensibilidades, profissões e regiões, médicos, advogados, juristas, operários, escritores, empregados, académicos, autarcas, membros de entidades do turismo, ex-presos políticos, jornalistas, músicos, sindicalistas, professores, estudantes, artistas e militares de Abril, podendo ser subscrito em peticaopublica.com/pview.aspx?pi=naoaomuseusalazar.

Esta não é a primeira vez que aparece «o projecto da reabilitação da figura de Salazar e do fascismo», denuncia o abaixo-assinado. «Agora, perante a amplitude da indignação que suscitou e suscita, reaparece de novo, encenado e refugiando-se, desta vez, com designação e dimensão pretensamente mais ampla e com contornos de investigação e critérios académicos, mas sem iludir o objectivo prosseguido, de sediar em Santa Comba Dão um “museu” ao ditador, adoptando a designação de “Centro de Interpretação do Estado Novo”, projecto que a AR já condenou em 2007 e agora, de novo, o reafirma na Comissão Permanente reunida a 11 de Setembro de 2019», refere a petição.

Nesse sentido, os signatários solicitam ao Presidente da Assembleia da República e aos deputados que, no início da legislatura, efectuem as diligências necessárias no respeito pelos valores inscritos na Constituição da República Portuguesa, «para que tal ofensa aos portugueses em geral, e em particular à memória dos milhares de vítimas do regime fascista do “Estado Novo”, seja definitivamente travada e abandonada».

As mulheres não esquecem
O Movimento Democrático de Mulheres (MDM) apelou, entretanto, à subscrição deste abaixo-assinado.

«As mulheres não esquecem a ditadura fascista que então viveram, não esquecem o regime autoritário que deixou o País na miséria e no obscurantismo. Um tempo de feroz censura e repressão, um tempo de escuridão, de silêncio e silenciamentos terríveis, de profundas mistificações e humilhações», refere o MDM, dando conta de um tempo «sem direitos, de fome e pobreza extrema, de salários de miséria, de grande exploração e repressão sobre quem lutava por melhores condições de vida e de trabalho».

Para as mulheres, o fascismo foi, também, «tempo de um estatuto social subordinado, presente no seu dia-a-dia e em todas as esferas da vida».

«Muitas foram as mulheres, anónimas ou mais conhecidas, revolucionárias, progressistas e democratas, trabalhadoras que lutaram por melhores condições de vida e de trabalho, pelo pão, pela paz, contra o fascismo, pela liberdade e democracia – e que por isso conheceram a brutalidade e a repressão do regime fascista, e o pagaram com a prisão ou a própria vida – muitas foram mães sem filhos e muitos os filhos sem mãe e pai», acentua o movimento.

«De forma organizada, e em todas as frentes de luta, as mulheres estiveram presentes em batalhas fundamentais da resistência à brutal ditadura fascista, pela conquista da liberdade, para trilhar os caminhos da igualdade e da emancipação social», conclui o MDM.

Conspiração contra a Democracia

«Considerando os sinais concretos do desenvolvimento de forças fascizantes por toda a Europa (e não só), a criação de um museu como o anunciado em Santa Comba Dão não será apenas um depósito do espólio do ditador Salazar, mas um centro de conspiração contra a Democracia e o Portugal de Abril», antevê a petição da URAP.

O documento, que começou a circular no final de Setembro, frisa, ainda, que o «museu» não vai ser «um local de estudo e um centro interpretativo do Estado Novo», como proclamam os seus defensores, «mas sim um instrumento para congregar saudosistas do passado e assumir-se como centro de divulgação e acção enquadradas na matriz corporativa/fascista».

Como se defende, «para fazer a história do “Estado Novo” existem já os baluartes e projectos da resistência e luta pela liberdade em Peniche e no Aljube» e outros deverão ser abertos, como a antiga cadeia da PIDE na rua do Heroísmo, no Porto. Objectivamente transformar-se-ia num local de exaltação do fascismo, aliás, como acontece em Predappio, terra natal de Mussolini, e no Vale dos Caídos, em Espanha.

Museu da Resistência e Liberdade
No próximo dia 26, sábado, às 15h00, tem lugar um encontro-convívio de ex-presos políticos, familiares, amigos e democratas de diferentes sensibilidades na Fortaleza de Peniche, onde decorrem as obras da instalação do Museu Nacional da Resistência e Liberdade.

A iniciativa pretende assinalar três anos de «árdua luta» que levou à criação do Museu da Resistência e Liberdade, mas também de parceria e colaboração para o avanço dos primeiros passos da sua instalação.

«A cerimónia de inauguração da primeira fase do Museu (25 de Abril de 2019) foi inesquecível. A Fortaleza de Peniche não podia ser cedida a privados, não podiam ser destruídos os blocos prisionais da antiga cadeia fascista. Seria um insulto a todos os resistentes antifascistas, sobretudo aos que passaram longos anos naquelas masmorras, que ali fosse instalada uma pousada turística», recorda a URAP.

O Museu Nacional da Resistência e da Liberdade vai ser um local histórico no qual todos, sobretudo as novas gerações, vão poder conhecer com verdade e rigor o que custou a liberdade, o que significou o regime fascista. Um espaço de memória, um local de estudo, reflexão e valorização da luta, da democracia e da liberdade.

 



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