Na Fortaleza de Peniche celebrou-se 100 mil visitantes a um Museu ainda em construção

MEMÓRIA Em apenas cinco meses, mais de 100 mil pessoas visitaram o primeiro núcleo do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que funcionará na Fortaleza de Peniche. O facto foi celebrado no dia 27.

O Governo do PS queria instalar ali uma pousada

A abertura, na passada sexta-feira, das Jornadas Europeias do Património (no âmbito das quais se realizam em Portugal cerca de 1500 iniciativas) cruzou-se, em Peniche, com a celebração de um acontecimento especial: os 100 mil visitantes do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, atingidos dias antes. O feito, notável sobre todos os aspectos, é-o ainda mais por duas razões: o curto espaço de tempo necessário para o atingir e o facto de o Museu, na verdade, ainda não existir.

O que já pode ser visitado, desde Abril, na Fortaleza de Peniche é o impressionante memorial com os nomes de todos os que ali estiveram presos durante a ditadura fascista – respondendo ao apelo do historiador (e ex-preso político) António Borges Coelho, ali gravado, «Nomeai um a um todos os nomes. Lutaram e resistiram. A liberdade guarda a sua memória nas muralhas desta fortaleza»; a exposição Por teu Livre Pensamento, contendo documentos e objectos reveladores do que foi o fascismo e a resistência; depoimentos de filhos de presos políticos exibidos numa sala contígua ao parlatório; e o segredo, onde são abordadas as fugas das prisões do fascismo, desde logo as que ocorreram ali, naquela que era a mais segura das cadeias.

Tudo isto, e muito mais, estará patente no futuro Museu.

Significado profundo

Na sessão que, no dia 27, assinalou a abertura das Jornadas Europeias do Património e celebrou os 100 mil visitantes, participaram representantes da Direcção-Geral do Património Cultural, funcionários do Museu, académicos envolvidos na produção dos conteúdos museológicos, antigos presos, dirigentes da URAP e do PCP e membros da Comissão de Instalação dos Conteúdos e da Apresentação Museológica/CICAM, da qual fazem parte, entre outros, Domingos Abrantes e Manuela Bernardino, que ali intervieram.

Para Domingos Abrantes, o facto de o espaço onde funcionará o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade ter sido já visitado por 100 mil pessoas desde Abril assume um «profundo significado» e dá a todos os envolvidos no processo «maiores responsabilidades no cumprimento dos objectivos que assumimos» quanto à abertura do Museu. Após salientar a importância de preservar a memória da resistência no local onde funcionava o «principal símbolo do sistema prisional fascista», o antigo preso político e actual membro do Conselho de Estado realçou que o maior legado da resistência antifascista que ali terá o seu «espaço de memória» é a própria democracia que permanece 45 anos depois da Revolução.

Antes, já Manuela Bernardino (que integra a Comissão Central de Controlo do PCP) tinha recordado a constante solidariedade com os presos políticos e suas famílias, patente desde logo no Socorro Vermelho e, mais tarde, na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (CNSPP). A denúncia das condições prisionais e a exigência de amnistia, provavelmente menos conhecidas do que outras frentes da luta contra o fascismo, foram decisivas para a unidade antifascista e assumiram relevante dimensão internacional. Após dar a conhecer a intensa actividade da CNSPP entre 1969 e 1974, Manuela Bernardino terminou apelando a que todos os envolvidos deêm o melhor de si para que o Museu abra as portas o mais rapidamente possível.

Programa intenso

Durante o fim-de-semana, foram muitas as actividades realizadas em Peniche no âmbito das Jornadas Europeias do Património 2019. Para além das visitas à exposição Por Teu Livre Pensamento, verso de um poema de David Mourão-Ferreira popularizado na voz de Amália Rodrigues, musicado por Alain Oulman, houve espectáculos de poesia, exposições de quadros de Júlio Pomar alusivos ao fascismo e à resistência, a recriação da fuga de 3 de Janeiro de 1960 para o público mais jovem e uma viagem pelos lugares de repressão e resistência na vila de Peniche.

Entre estes lugares constam, para além da própria Fortaleza, as casas de destacados antifascistas locais, sítios onde se realizaram lutas de trabalhadores e pescadores, as antigas sedes da CDE em 1969 e 1973 e os postos da GNR e da PIDE. Os roteiros foram conduzidos por membros da URAP.




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