«Queremos uma saída completa da União Europeia»
Robert Griffiths é, Secretário-geral do Partido Comunista Britânico (PCB). Naquela que foi a sua terceira presença na Festa do Avante!, em representação do seu partido, afirmou que vem «sempre que pode», pois a Festa «é fantástica».
Mas foi outro o assunto dominante da conversa do dirigente comunista britânico com o Avante!, precisamente o mesmo que desde há três anos hegemoniza e polariza o debate político no Reino Unido: o processo de saída da União Europeia. Para Robert Griffiths, esta opção soberana do povo britânico, expressa no referendo de 2016, está a ser desrespeitada, estando em marcha uma operação de grande envergadura para «bloquear, impedir e reverter» a sua concretização. A maioria dos monopólios britânicos é contra a saída da UE, assim como a generalidade das elites dirigentes do país e, pelo menos até há pouco tempo, as lideranças dos principais partidos, recorda.
Mas a oposição à saída da União Europeia também se manifesta entre os deputados, embora muitos entendam (com motivações diversas) ser necessário respeitar de alguma forma a decisão popular. A solução encontrada, denuncia Griffiths, foi a de uma saída parcial, limitada, que «mantenha o Reino Unido condicionado pelas regras do mercado livre, da união alfandegária e do Mercado Comum e pelo domínio do grande capital transnacional». Assim se explica, por exemplo, o facto de o Parlamento ter colocado recentemente «fora da lei» a possibilidade de uma saída sem acordo.
Para o dirigente comunista britânico, o novo primeiro-ministro, Boris Johnson, nunca quis verdadeiramente a saída do país da União Europeia, defendendo essa opção apenas por oportunismo. Assim, prevê Robert Griffiths, Johnson prepara-se para aceitar o essencial do acordo negociado pela anterior primeira-ministra, responsabilizar o Partido Trabalhista pelas suas implicações e procurar apresentar-se a umas eventuais eleições antecipadas em melhores condições para as vencer.
Recuperar a soberania
Desde a primeira hora que os comunistas britânicos se opõem ao processo de integração capitalista europeu, tendo a esse respeito, como lembrou o seu Secretário-geral, posições muito semelhantes às do PCP. Em coerência, o PCB defendeu no referendo de 2016 a opção pela saída do país da União Europeia, pela qual ainda hoje se bate: uma saída «completa», capaz de libertar totalmente o país de quaisquer condicionantes e imposições provenientes da UE.
Valorizando muitas das medidas defendidas pela actual direcção do Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbin, Robert Griffith realça que as mais ambiciosas, como o apoio à indústria nacional e o planeamento económico, «contrariam abertamente» as regras e imposições da UE e muito dificilmente seriam implementadas caso a saída do Reino Unido fosse invertida ou incompleta.
É esta capacidade de decisão soberana que o PCB pretende alcançar ao exigir a saída da União Europeia e não qualquer isolamento do seu país: aliás, no novo quadro de relacionamento respeitoso da soberania e mutuamente vantajoso entre países europeus, pelo qual se batem, os comunistas britânicos incluem a liberdade de viajar, relações científicas, culturais e sociais frutuosas e direitos laborais e de cidadania para todos.