Ucrânia e Síria na agenda da cimeira França-Rússia
CIMEIRA O conflito no leste da Ucrânia, a guerra na Síria, o perigo de um retomar da corrida armamentista entre os Estados Unidos e a Rússia foram alguns dos temas debatidos pelos presidentes Macron e Putin.
Presidentes Macron e Putin debateram questões internacionais
Os conflitos na Ucrânia e Síria estiveram entre os assuntos tratados pelos presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Rússia, Vladimir Putin, no encontro na segunda-feira, 19, em Forte de Bregançon. A reunião franco-russa decorreu a poucos dias da cimeira em Biarritz do G7, de que Moscovo foi excluído em 2014.
Diferentemente do que aconteceu em relação à crise no Irão, desencadeada por os EUA terem abandonado o acordo nuclear com Teerão, apenas mencionada por Macron e Putin, ambos os dirigentes salientaram a importância de abordar as crises na Ucrânia e na Síria, ainda que sobre elas não tenham a mesma visão.
No caso da Ucrânia, não existem dúvidas sobre o consenso entre Paris e Moscovo para manter conversações no «formato da Normandia», em que também participa a Alemanha, tendo em vista lograr uma solução pacífica para o conflito.
Macron defendeu, a criação de condições para uma reunião nas próximas semanas, aproveitando a oportunidade do apelo ao diálogo com a Rússia do novo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. «Vemos uma possibilidade real de pôr fim ao conflito, após cinco anos de impactos na população civil», disse Macron. Putin prometeu actualizar o seu anfitrião sobre os recentes contactos com Zelensky, que geraram algum optimismo.
Considerando o interesse expresso por Macron em avançar com a aproximação entre a Rússia e a União Europeia, é lógico que a questão ucraniana tenha sido discutida com prioridade, uma vez que representa a pedra angular para a melhoria de relações entre Moscovo e Bruxelas.
O Ocidente acusa o Kremlin de promover o conflito no Donbass e anexar a Crimeia, enquanto Moscovo denuncia que o golpe de Estado em Kiev que desencadeou a guerra no leste ucraniano foi orquestrado a partir do exterior como parte dos planos da NATO de cercar a Rússia política e militarmente. De qualquer maneira, não é impensável que os dois países trabalhem em conjunto para materializar a paz traçada nos incumpridos acordos de Minsk.
Este cenário de consenso não se repete no caso da Síria, já que Putin reiterou agora o seu apoio a Damasco e à luta contra o terrorismo na cidade de Idleb. Por sua parte, Macron assinalou ao seu homólogo russo a urgência de que entre ali em vigor um cessar-fogo.
Desde Março de 2011, quando foi desencadeada a guerra na Síria, o Ocidente aposta numa mudança de regime naquele país do Médio Oriente, enquanto Moscovo insiste que cabe aos sírios decidir o seu destino, sem ingerências exteriores.
Escalada armamentista
Putin aproveitou o encontro com Macron para reiterar que a Rússia não tem interesse em retomar a corrida armamentista.
A propósito dos comentários do presidente francês aos jornalistas, sobre a importância de discutir o desarmamento e a segurança colectiva, o chefe do Estado russo lembrou que não foi Moscovo que se retirou do Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermédio (INF) mas sim os EUA. A 2 de Agosto, e a partir de uma decisão dos EUA, deixou de estar em vigor o pacto assinado em 1987 pelos líderes norte-americano e soviético, Ronald Reagan e Michail Gorbatchov, para travar o desenvolvimento de mísseis balísticos e de cruzeiro com base em terra e alcance de 500 a cinco mil e 500 quilómetros.
Putin precisou que a Rússia deu claros sinais da sua disposição de evitar uma escalada armamentista, em particular na esfera nuclear, e manifestou a vontade de prolongar a vigência para além de 2021 do Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Novo START).
Também sobre a mesa está a disposição russa de abster-se de colocar na Europa e na Ásia mísseis antes proibidos pelo INF, enquanto Washington não o fizer. «No entanto, não vemos respostas dos EUA», advertiu Putin.