Rússia acusa EUA de querer pôr fim ao controlo de armas
INF O Tratado de Armas Nucleares de médio e curto alcance chegou ao fim, por iniciativa dos EUA, acusa a Rússia. Pequim também criticou a decisão de Washington. Pode ser o início de uma nova corrida armamentista.
Pode-se estar a assistir ao início de nova corrida armamentista
Os Estados Unidos abandonaram, no dia 2, o Tratado de Armas Nucleares de médio e curto alcance (INF), assinado em Dezembro de 1987 com a então União Soviética e que se mantinha em vigor desde então.
Em Washington, o Departamento de Estado evocou que a 2 de Fevereiro passado os EUA anunciaram o abandono do INF num prazo de seis meses, agora cumprido, com o argumento de contínuas violações do mecanismo por parte da Rússia.
Moscovo nega as acusações e diz ter provas de como os EUA infringiram o tratado com acções que incluem a utilização de mísseis chamarizes, drones pesados de assalto e sistemas de defesa anti-mísseis Aegis Ashore, cujas rampas podem ser facilmente adaptadas para lançar foguetes alados Tomahawk.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia confirmou, através de uma declaração, «o fim» do INF «por iniciativa da parte estado-unidense» e acusou os EUA de procurar o desmantelamento real do sistema de controlo de armas e de desarmamento.
A retirada do INF indica que os EUA prosseguem no caminho da destruição de todos os acordos internacionais que não lhes convenham por uma razão ou outra, destaca a declaração do governo russo. O término do INF em resultado da retirada dos EUA requer medidas urgentes para estabilizar a situação e manter o nível adequado de previsibilidade entre a Rússia e os EUA, assinala.
A CNN anunciou, citando um funcionário norte-americano, que, após a retirada dos EUA do INF, o Pentágono avaliará nas próximas semanas um novo míssil de cruzeiro que estaria a ser desenvolvido especificamente para desafiar Moscovo na Europa.
Segundo a cadeia televisiva, os analistas receiam que esses testes marquem o início de uma nova corrida armamentista entre os EUA e a Rússia. Já em Março passado a CNN tinha noticiado que o Pentágono estava a dar passos para desenvolver novos mísseis, incompatíveis com as obrigações do INF.
Mais sanções à Rússia
e críticas da China
Os EUA impuseram novas sanções contra a Rússia pelo alegado envolvimento desse país num «suposto ataque químico» contra o agente duplo Serguei Skripal e sua filha Julia, acção de que Washington acusa Moscovo, sem apresentar provas.
Nesta nova ronda de sanções, que se seguem às aplicadas em Agosto de 2018, os EUA opõem-se à concessão de «qualquer empréstimo ou assistência financeira ou técnica» à Rússia por parte de instituições financeiras como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional. Além disso, o governo americano proíbe os bancos estado-unidenses de emprestar dinheiro à Rússia. O «castigo» inclui mais restrições a licenças de exportação de bens e tecnologia controladas pelo Departamento do Comércio norte-americano.
O deputado russo Leonid Slutsky advertiu que o Ocidente estava a retomar temas como o de Skripal para justificar novas sanções, a que chamou de «histeria anti-russa» dos EUA e do Reino Unido, onde terá ocorrido em Março de 2018 o episódio envolvendo o espião. Londres acusou então Moscovo de estar por detrás do envenenamento, sem apresentar nenhuma prova e indicando apenas que a Rússia era «o mais provável organizador desse acto», tese logo seguida pelos EUA.
Em Pequim, entretanto, a China criticou a saída dos EUA do INF estabelecido com a Rússia, considerando a medida «lamentável e irresponsável».
Uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse que o governo chinês opõe-se energicamente ao abandono do tratado por Washington, uma medida negativa que ignora os seus compromissos internacionais. Com essa decisão, a Casa Branca recorre ao unilateralismo e ignora os interesses e a segurança da maioria, precisou.