Nixon, Reagan, Trump: racismo na Casa Branca
Têm sido denunciadas e rejeitadas, nos Estados Unidos e por todo o mundo, as afirmações racistas do presidente Donald Trump, quer em relação a outros povos, quer sobre uma parte do próprio povo estado-unidense. Desde repetidas falsidades sobre imigrantes, em especial os latino-americanos, até depreciativos comentários relativos a africanos, passando por ataques contra congressistas norte-americanas pertencentes a minorias étnicas e religiosas.
Mas este racismo do actual ocupante da Casa Branca tem antecedentes.
Meios de informação em Washington difundiram há dias o conteúdo de um diálogo telefónico entre os ex-presidentes republicanos Richard Nixon (1969-1974) e Ronald Reagan (1981-1989) com comentários racistas sobre países africanos.
Conta a Prensa Latina que a conversa decorreu em Outubro de 1971, quando a Organização das Nações Unidas votou a favor do reconhecimento da República Popular da China. O episódio foi descrito na revista The Atlantic por Tim Naftali, que dirigiu de 2007 a 2011 a Biblioteca e o Museu Presidencial Richard Nixon.
Naftali explicou que Reagan, que na altura era governador da Califórnia, ficou furioso porque as delegações de África não alinharam com a posição dos EUA de que a ONU devia reconhecer Taiwan como um Estado independente. Por isso, quis falar ao telefone com o presidente Nixon sobre o tema.
O historiador precisou que o então governador californiano estava, aparentemente, zangado depois de ver na televisão os delegados da Tanzânia celebrar a decisão da ONU de apoiar a soberania chinesa sobre Taiwan. «Ver esses macacos dos países africanos, malditos sejam, que ainda nem sequer estão habituados a usar sapatos!», ouve-se Reagan a dizer, numa gravação áudio da conversa, comentário a que Nixon responde com uma gargalhada.
De acordo com o professor de História, depois do telefonema, Nixon usou as palavras de Reagan em conversas com outras pessoas para defender os mesmos pontos de vista.
Nixon contou depois ao secretário de Estado da época, William Rogers, que Reagan estava indignado por ter visto na televisão «esses canibais» e considerou que tal sentimento era partilhado por muita gente que tinha visto aquela «imagem muito grotesca».
Os Arquivos Nacionais dos EUA, originalmente, difundiram a gravação da chamada telefónica em 2000, sem a parte racista, mas, como investigador, Naftali solicitou uma revisão das conversas, no ano passado, tendo obtido há duas semanas a versão completa.
No seu artigo na revista The Atlantic, o autor chamou a atenção para o facto de os recentes comentários racistas do actual presidente do país, Trump, trazerem «o racismo presidencial novamente para os títulos da imprensa».
Do seu ponto de vista, o diálogo telefónico entre Reagan e Nixon é um recordatório de que outros presidentes estado-unidenses subscreveram a crença racista de que os africanos ou os afro-americanos são de alguma maneira inferiores. E sublinhou que o aspecto novo das afirmações racistas de Trump não é que as tenha dito, mas que as tenha dito em público.
Nos dias de hoje, segundo Naftali, embora as imagens de Trump sejam menos zoológicas, o seu espírito é praticamente o mesmo. E este presidente, diferentemente de Nixon, não acha que deva esconder-se por detrás do racismo de outros.