A cinco à hora

Segundo informação prestada pela TV e aliás confirmada por declaração de um ministro, alguns dos incêndios florestais havidos no passado fim-de-semana no distrito de Castelo Branco deflagraram à velocidade de cinco incêndios numa hora, a relativamente pouca distância uns dos outros e durante a madrugada. Não é preciso ter doentios pendores para a suspeição para que destas circunstâncias resulte a convicção de que para além do calor, da secura do ar e do vento, terá havido mão humana (ou porventura melhor, desumana) a desencadear as maiores ou menores catástrofes havidas. Isto é, terá havido crimes. Por isso também a televisão nos informou de que a Polícia Judiciária já está em campo e até que já foi detido um indivíduo que terá sido surpreendido na sua criminosa prática de incendiário. Parece claro, contudo, que um único sujeito não terá podido atear tantos incêndios quantos aconteceram em tão pouco tempo e em zona alargada, pelo que volta a imaginação a ser estimulada, com boas razões ou sem elas: há o calor, é claro, mais a nenhuma humidade do ar, mais o vento; mas que mais poderá haver?

Com armas sujas

Voltamos assim, tal como voltaram os fogos, a uma desagradável questão que já emergiu em anos anteriores: a haver crime (e os efeitos tragicamente visíveis aí estão), a quem aproveita. Soubéssemos ou não a resposta, surgiu nos televisores um «espontâneo» a fornecê-la: um sujeito desconhecido ou pouco mais, presumível militante PSD de terceira ou quarta linha, veio esclarecer-nos de que a culpa é do governo. Assim se vê, pois, que é a oposição que politicamente aproveita com a desgraça dos fogos, o que aliás tem inteira lógica: se é ele, governo, que manda, se para mais por vezes manda com o apoio parlamentar dos partidos à esquerda do PS (o que, como se sabe, é pecado mortal), é óbvio que a culpa dos fogos florestais é dele. Esta conclusão explícita ou implícita não significa que o PM António Costa deva ser acusado de andar por aí, madrugadas fora, a incendiar o mato, mas significará, sim, que em Outubro se deva votar PSD ou CDS-PP para que em 2020 não regressem os fogos: é, afinal, o que o tal militante PSD que veio à televisão, isto é, a nossas casas, claramente sugeriu. Assim, apesar de ser trágico (e significativo) que o fogo do passado fim-de-semana se tenha propagado a velocidade de cinco à hora, houve quem dele se aproveitasse para o combate político. Recorda-se uma vez mais: porque também nessa guerra a direita não limpa armas.




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