Atletas portugueses brilharam em Minsk

José Augusto

Janez Kocijancic, presidente dos Comités Olímpicos Europeus, garantiu que estes Jogos foram «limpos»

Os atletas portugueses regressaram de Minsk, sede dos II Jogos Europeus (JE), que findaram no dia 30 de Junho, com três medalhas de ouro, seis de prata e outras tantas de bronze, quinze ao todo, em 10 modalidades. Nunca uma representação portuguesa esteve tão bem numa competição deste género, que envolveu mais de 4000 praticantes de 50 países, os quais procuraram o pódio em 15 modalidades, quatro delas não olímpicas.

Como se esperava, a Rússia arrasou: 109 medalhas (44 de ouro, 23 de prata e 42 de bronze). Os atletas anfitriões alcançaram 69 medalhas, enquanto a Ucrânia, que subiu também ao pódio, se ficou pelas 51.

Há quatro anos, na 1.ª edição dos jogos, em Bacu, capital do Azerbaijão, os desportistas lusos tiveram um desempenho mais modesto, mas mesmo assim a valer 10 medalhas.

Os JE tiveram o condão de mostrar ao mundo o povo bielorrusso, afável e solidário, uma cidade, airosa e moderna, e um país em cujo território se desenrolaram heróicas batalhas contra as forças de Hitler. É já lendária a luta dos guerrilheiros bielorrussos, e de outras nacionalidades da União Soviética, na retaguarda das linhas alemãs, a maior parte das vezes em terrenos pantanosos.

Minsk, hoje com cerca de dois milhões de habitantes, foi totalmente reconstruída depois da II Grande Guerra. Os bombardeamentos não deixaram pedra sobre pedra e, pouco depois da sua libertação, que aconteceu a 3 de Julho de 1944, as autoridades perguntaram aos habitantes que sobreviveram ao conflito se queriam uma cidade nova ou a sua cidade reconstruída. A esmagadora maioria optou pela reconstrução.

Mas muito mais poderíamos ter ficado a conhecer de um país e suas gentes se a TV pública não se tivesse alheado deste importante acontecimento. Claro que são mais fáceis e mais baratos os programas desportivos de «enchimento», nesta época de defeso, preenchidos com horas quilométricas de especulação com eventuais entradas e saídas de futebolistas, com palavreado balofo, que certamente envergonha os próprios profissionais da bola. As censuras a este apagão informativo saltaram de todos os quadrantes, até mesmo de áreas governamentais com responsabilidade tutelar na estação televisiva.

Segundo rezam as crónicas dos jornalistas que se deslocaram a Minsk, a organização dos JE roçou a perfeição, e o ambiente vivido nos recintos desportivos e na Cidade dos Estudantes, preparada para acolher 6000 atletas e outros elementos das várias representações, foi verdadeiramente olímpico. Por outro lado, o eslovaco Janez Kocijancic, presidente dos Comités Olímpicos Europeus, entidade responsável pela organização dos Jogos, garantiu que estes foram «limpos», isto é, sem casos de doping.

O espírito com que os atletas, designadamente os portugueses, encararam estes JE, ressalta nas palavras do canoísta nortenho Fernando Pimenta, que apontou ao ouro nos 5000 metros, mas teve de se ficar pela prata. Disse ele, logo após a prova: «Dou os meus parabéns ao vencedor, porque ganhou justamente. Eu dei tudo por tudo nos metros finais, mas já nem forças tinha para segurar a pagaia. Mais do que dei era impossível, porque senti o corpo a rebentar por todos os lados. Dei o melhor, mais não pude.» E, quem dá o que tem, a mais não é obrigado. Diz o povo e tem razão.

Valorizaram também os Jogos as espectaculares cerimónias de abertura e encerramento. A primeira, consagrou a poesia, as artes e a história desportiva da Bielorrússia; a segunda, foi um megaconcerto da «cidade das mil vozes», como escreveu um enviado especial. E a RTP não esteve lá para nos mostrar. «Iak chkada», diria um bielorrusso. É pena, dizemos nós.




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