Prós e Prós
Foi uma emissão diferente e de certo modo desconcertante a do “Prós e Contras” da última segunda-feira. Os telespectadores estão habituados a que o programa apresentado por Fátima Campos Ferreira implique a divisão dos convidados em palco por opiniões e até sabedorias opostas, o que aliás explica o título do programa numa sugestão de democraticidade. Desta vez, porém, foi diferente: talvez para além de pontuais e de facto irrelevantes diferenças de pormenor, uma generalizada tendência para a unanimidade planou sobre o programa quase curiosamente intitulado “Quem protege a democracia?” Aliás, perante o título parece provável que a generalidade dos telespectadores presumisse que ali se iria falar de política, que se tratasse pelo menos de passagem da existência de grupos de extrema-direita e dos seus projectos, de coisas assim. Mas não aconteceu nada disso: surpreendentemente para alguns, convidados e elementos da plateia (afinal também eles convidados, como habitualmente e como se sabe) falaram de informática, de ciberataques e da defesa contra eles que será necessária e urgente. A presença no palco do Chefe do Estado-Maior da Armada reforçava naturalmente a sugestão do carácter efectivamente castrista do tema.
Sempre eles
Do que foi possível entender pela generalidade dos telespectadores do programa, soube-se da existência de um perigo de ataque ao país, não nas formas bélicas convencionais mas como ciberataques, isto é, ataques informáticos. Lembrando o título da emissão, terá sido natural perguntar de que formas concretas o ataque à democracia se revestiria, mas essa eventual interrogação não foi claramente abordada. Em compensação, digamos assim, foi apontada ou mais que isso, embora talvez não em termos muito claros, a autoria de eventuais ataques cibernéticos: os russos, naturalmente, sempre eles! Houve um tempo em que os norte-americanos viviam assustados com a possibilidade de um submarino soviético desembarcar militares numa qualquer costa dos Estados Unidos: “-Vêm aí os russos!” tornou-se a expressão caricaturada desse receio e até foi título de filme. Pelos vistos, agora o submarino está dispensado e foi substituído pelas capacidades informáticas, mas o receio parece manter-se embora com formas diferentes. Foi ele que, afinal, planou um pouco no auditório do Instituto Champalimaud. Terá sido ele a consubstanciar a necessidade de “proteger a democracia” que o título desta emissão do “Prós e Contras” enunciava.