PS trava avanços nos direitos de quem trabalhou uma vida inteira
O PS voltou a contar com o apoio das bancadas à direita no hemiciclo para inviabilizar iniciativas legislativas do PCP destinadas a fazer justiça e a melhorar a vida de quem trabalha ou trabalhou.
Há que avançar mais nos direitos de quem trabalhou uma vida inteira
Desta feita, o alvo foram quatro projectos de lei que tinham por objectivo valorizar as longas carreiras contributivas. Ao lado da bancada do PS no voto contra três dos diplomas estiveram PSD e CDS, que se abstiveram no restante e com isso na prática deram-lhe o mesmo destino. Como igual foi o desfecho dado a iniciativas do PEV e do BE sobre a mesma matéria.
Com um já longo historial de intervenção e proposta nesta área – os passos positivos que foram dados com o seu inigualável contributo nesta legislatura no que se refere às muito longas carreiras contributivas são disso testemunho – para o PCP, como salientou no debate Diana Ferreira, tratava-se agora de «ir mais longe e avançar nos direitos daqueles que trabalharam uma vida inteira» e, por outro lado, «fazer justiça a dezenas de milhares de trabalhadores que continuam à espera de respostas para as suas vidas».
Dito de outro modo, segundo as palavras do líder parlamentar comunista, «se as pessoas vivem mais tempo, se a ciência e a tecnologia permitem que se produza mais e em menos tempo, então os trabalhadores devem reformar-se mais cedo para poderem gozar a sua reforma e não ser obrigados a trabalhar até ao fim da vida». E esta, para João Oliveira, é a «constatação central» que justifica o que considera serem as «soluções inadiáveis» preconizadas pelo PCP.
De que forma? Desde logo, reconhecendo a quem trabalhou e fez descontos para a Segurança Social durante 40 anos o direito de aceder à reforma, sem penalizações, independentemente da idade.
«Não é justo, não é aceitável que, depois de 40 anos de trabalho, alguém seja obrigado a trabalhar para sobreviver até chegar à idade legal de reforma, muitas vezes trabalhar até ao limite das suas forças», declarou a parlamentar do PCP.
Propostas justas
De grande alcance era também a proposta que eliminava a aplicação do factor de sustentabilidade às pensões por desemprego involuntário de longa duração e que revia os regimes e medidas especiais de antecipação da idade de acesso à pensão de velhice.
A correcção das injustiças para aqueles que empurrados para reformas antecipadas sofrem hoje profundas penalizações nas suas pensões constituía outro objectivo visado neste conjunto de propostas, onde se incluía ainda a completa revogação do factor de sustentabilidade e a reposição da idade legal de reforma nos 65 anos. Como sublinhou Diana Ferreira, o «aumento da esperança média de vida é um progresso civilizacional e não pode ser utilizado para amputar direitos, como o direito à reforma e a uma reforma digna».
Outro foi o olhar do PS sobre esta realidade. Ancorando-se no elogio à reforma da Segurança Social de 2007, a deputada Catarina Marcelino defendeu que não se pode em «nenhuma circunstância fazer alterações avulsas» que ponham em causa a «sustentabilidade e o equilíbrio do sistema».
Justificou, ainda, a rejeição dos diplomas em discussão com a ausência de «estudos credíveis sobre o impacto das medidas propostas», alegando que neles se «pede mais» do que aquilo que o Governo está a fazer para o reequilíbrio das contas da Segurança Social, o que «não é possível sob pena de hipotecar o futuro».
Inquinar a discussão
«Se a extrema-direita na Europa está a apropriar-se de causas justas e reivindicações dos trabalhadores e das populações é também porque partidos como o CDS não deram resposta aos problemas que são reais e lhe abram a porta», afirmou a deputada comunista Diana Ferreira. Respondia a Filipe Anacoreta Correia (CDS) que, numa leitura com tanto de absurdo como de provocatório, insinuara semelhanças entre as propostas do PCP e as de forças extremistas em França e Itália.
Já quanto à sustentabilidade da Segurança Social, questão também invocada por PSD e CDS, a parlamentar comunista não teve com meias palavras e acusou ambos de pretenderem «inquinar a discussão», porquanto, frisou, «ignoram propositadamente e de forma falaciosa» o crescimento das contribuições para a Segurança Social que ocorreu nos últimos anos e que é devido, designadamente, à reposição de rendimentos. Isto sem prejuízo de medidas de fundo que urge incrementar e que passam pela «criação de emprego, pela valorização dos salários e pelo combate à precariedade», realçou.