Da Federação Maximalista à fundação do PCP
A Federação Maximalista Portuguesa preparou condições e quadros para a criação do PCP
A Federação Maximalista Portuguesa (FMP) foi fundada há 100 anos por iniciativa de um grupo de destacados dirigentes sindicais profundamente ligados à luta dos trabalhadores e que, embora perfilhassem os ideais anarquistas, foram influenciados pelo impacto internacional da Revolução Socialista de Outubro, na Rússia.
A FMP propunha-se «difundir os princípios tendentes ao estabelecimento do socialismo comunista», assumindo como tarefa prática imediata defender a revolução russa e propagar os seus princípios. Dois momentos relevantes assinalam e balizam a sua constituição: a apresentação da Declaração de Princípios/Estatuto orgânico e da sua direcção (Maio de 1919) e o começo da publicação do seu órgão A Bandeira Vermelha, em Outubro.
Denominado «semanário comunista» a partir do número 2, A Bandeira Vermelha complementava e reforçava os objectivos políticos da FMP como órgão ao serviço da divulgação da teoria e do «desenvolvimento da acção prática concordante com o que se desenvolvia em todos os países», com o fim de «preparar o ambiente para destruir a organização burguesa e criar o poder proletário». Desempenhou um papel sem paralelo na defesa da Revolução de Outubro, divulgando as suas realizações e princípios, desmascarando as agressões imperialistas e as campanhas detractoras desenvolvidas pela comunicação social dominante e ainda como espaço de discussão sobre a natureza da revolução social, da táctica e da organização revolucionárias.
A FMP cessou praticamente a sua actividade depois de, na sequência do seu activo apoio à greve dos ferroviários, uma das mais combativas greves naquela época, ter sido assaltada a tipografia onde se procedia à impressão de A Bandeira Vermelha e preso o seu Secretário-geral, o ferroviário Manuel Ribeiro (Outubro, 1920).
A contribuição da FMP para o desenvolvimento do movimento operário português, apesar das limitações político-ideológicas, determinadas em grande parte pelo baixo nível de desenvolvimento do movimento operário e das relações sociais à época, foi de tal forma importante que se poderá dizer que com a sua criação se inicia uma nova etapa na história do movimento operário português, de que ressalta a criação do partido político da classe operária, o Partido Comunista Português, na origem do qual estiveram grande parte dos fundadores da FMP, a começar pelo seu Secretário-geral, que além de dirigente do PCP assumiu o cargo de director de O Comunista, o primeiro órgão do Partido.
Passaram-se 100 anos desde a fundação da FMP. A classe operária e os comunistas portugueses percorreram um longo caminho e tiveram de travar duras batalhas para se afirmarem e assegurar o direito à existência.
Aos maximalistas e ao seu órgão, apesar das limitações, ambiguidades e confusões político-ideológicas, cabe o mérito de terem preparado – pela sistemática divulgação e discussão das experiências da primeira revolução proletária e dos processos revolucionários em outros países; pela reflexão sobre as lutas e experiências do movimento operário português e internacional; pela popularização de textos dos clássicos do marxismo e dos principais dirigentes soviéticos e do movimento comunista internacional; pelo apoio à luta dos trabalhadores – as condições e os quadros que levariam, a 6 de Março de 1921, à fundação do Partido Comunista Português, cuja história desde então se confunde com a história e com a luta dos trabalhadores portugueses.
* Texto elaborado a partir do artigo com o mesmo título de O Militante n.º 302, Setembro-Outubro de 2009