«Fake News», velhas e novas perversidades

Carlos Gonçalves (Membro da Comissão Política)

Anda meio mundo a falar de «fake news» como grande novidade, mas são velhas e revelhas as notícias falsas significativas, as que integram campanhas ideológicas para dividir trabalhadores e democratas, mistificar e ocultar a realidade e abrir espaço a projectos reaccionários, anticomunistas, antidemocráticos, populistas e protofascistas.

Cresce a perversidade das «fake news», procurando condicionar a consciência social e política e travar a luta

No fundo, as «fake news», expressão de todas as mentiras e mistificações das classes exploradoras, num tempo histórico concreto, são tão antigas como a divisão da sociedade em classes, a opressão e a exploração. Mas as «fake news» atingiram maior visibilidade mediática com este jargão anglo-saxónico após a «eleição» de Trump, a propósito da divulgação massiva de notícias falsas pelas redes sociais, para lavagem ao cérebro e manipulação do voto do eleitor seleccionado pelos algoritmos do Facebook.

E ganharam centralidade na eleição do fascista Bolsonaro, apoiado por uma brutal operação de mentiras e mistificações em massa no WhatsApp. As «fake news» tornaram-se assim um sub-produto da crise estrutural do capitalismo e da degradação do que resta da sua democracia formal.

Por cá, os media dominantes escondem as suas violentas e omnipresentes operações de «fake news» – para reverter os avanços que a luta e a intervenção do PCP tornaram possíveis nestes três anos, para fomentar o preconceito e a provocação anti-comunista, para equiparar a democracia e os «políticos» à corrupção, para branquear a política de direita, do PS, PSD e CDS, para consumar a subversão do Portugal de Abril, para reabilitar como «Estado Novo» a ditadura fascista.

Muitas vezes estes media até simulam a crítica das «fake news» para melhor as promover e aos seus desígnios antidemocráticos, com a tese do «falhanço do Estado», a «notícia» de acções instrumentais com objectivos reaccionários ou a propaganda da mobilização nas redes sociais da «revolta inorgânica» e «anti-sistema», mas de facto dirigida pelo PNR e quejandos.

Nas condições de Portugal e do mundo de hoje é evidente e preocupante que as «fake news» aconteçam no quadro da decisão de um «trust» multinacional – com projecção e centro director no País – de plataformas digitais, redes sociais, de televisão, informativas e de entretenimento, de comunicação social, conteúdos e telecomunicações, que potenciam a manipulação eleitoral e a subversão antidemocrática e que permitem impor, no mesmo minuto, em todo o País, e em tantos países, um determinado «pensamento único».

O caminho da luta

É este o «caldo de cultura» em que cresce a perversidade das «fake news», do populismo, da mistificação e exploração de sentimentos primários, procurando condicionar a consciência social e política e travar a luta.

E em que medra uma outra perversidade, a de que os mesmos interesses que comandam as «fake news» possam agora censurar as redes sociais. Ou seja, o Facebook e a Google a silenciar quem conteste as suas «fake news», como aliás já sucede, ou a comunicação social dominante, como propõem os «cucos», ou uma comissão de «técnicos» da UE, como parecem defender PS, PSD e CDS, abrindo assim espaço a novas perversidades que não garantem a liberdade de informação.

O PCP não trilha estes caminhos e luta pela liberdade de imprensa e de informação, contra o domínio dos grupos económico-mediáticos, nacionais e multinacionais, contra as «fake news» e em defesa da democracia de Abril.

O PCP tem uma confiança inabalável nos trabalhadores e no povo e na sua luta, esclarece, mobiliza e intervém, no plano ideológico e político, contra os grandes interesses e as suas «fake news».




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