Uma coisa (aparentemente) esquisita
Como tantas vezes temos afirmado, mais do que o perfil deste ou daquele ministro, aquilo que determina o desempenho de cada área governativa, são as opções políticas que presidem à acção de cada governo. E tanto assim é que, na maioria dos casos, ministros e secretários de estado sucedem-se, sem que tal represente uma alteração das políticas que são concretizadas. O mesmo sucede na própria orgânica dos vários governos, uns com mais, outros com menos ministérios, aliás, podemos dizer que temos tido de tudo um pouco. A questão de fundo é sempre a mesma: para quê e para quem é que se governa! Estamos em crer que a recente «remodelação» que o Governo minoritário do PS fez confirmará esta avaliação que tem norteado o posicionamento do PCP nesta matéria.
Mas isso não significa que não existam alterações que, ainda que formais na sua aparência, falem por si quanto aos objectivos que as determinam. No caso mais recente, estão as opções que envolvem o Ministério da Economia do actual Governo, dando origem a uma coisa esquisita. Um ministério da economia que já não tinha a tutela das principais empresas públicas, a gestão dos fundos comunitários, a política de transportes, o sector financeiro, as infraestruturas e o investimento público e que agora deixa de ter sob a sua alçada a política energética. No fundo, um ministério da economia em que a política económica está reduzida à gestão de muitos milhões que são distribuídos pelo grande capital, sob a cortina de coisas modernaças, como as start ups e outros estrangeirismos.
Na verdade, a política económica do governo minoritário do PS é, por opção própria, uma política desligada das necessidades do país, da resposta aos seus défices estruturais, a começar pelo défice produtivo. E por mais justificações que o Primeiro-ministro procure dar o que está por detrás desta estrutura orgânica é a sujeição da política económica do país aos interesses do grande capital.