O Panteão
A concelhia de Lisboa do PSD armou um aranzel com a ideia de instalar os restos mortais de Francisco Sá Carneiro no Panteão Nacional. As redes sociais reagiram de imediato com as balbúrdias do costume e as primeiras páginas dos jornais, noticiários e telejornais trouxeram o assunto para a ribalta, esticando-o pelos dias noticiosos que foram remansando por aí.
A história começou com o pedido de um grupo de deputados do PS e do PSD propondo uma «alteração cirúrgica» ao que foi aprovado em 2016 sobre as regras da selecção de personalidades a elevar ao Panteão Nacional, de modo a permitir a trasladação oficial de Mário Soares já em Janeiro próximo.
Bastaram 15 dias sobre este arranjo apalavrado entre alguns deputados do PS e do PSD para este último, «na pessoa» da comissão concelhia de Lisboa do PSD, se chegar à frente com a contrapartida – a inclusão de Francisco Sá Carneiro no tal Panteão. E o descaramento do PSD é tal, que invoca a sua «disponibilidade» em levar Soares ao Panteão para «exigir» o mesmo tratamento do PS para o seu Sá Carneiro.
O Presidente da República, Rebelo de Sousa, não podia ficar de fora e acorreu a ungir o duo Soares/Carneiro como «pais da democracia portuguesa» (um elogio de alto coturno), cuja figuração no Panteão é uma homenagem que ele acha «justíssima». Pois será.
Antes que esta guerra de Alecrim e Mangerona «à bloco central» tomasse mais proporções (que António José da Silva nos perdoe), o PCP fez saber, a quem já incluía Álvaro Cunhal nos putativos candidatos ao Panteão (manobra notória para espalhar o jogo), que «a entrega de Álvaro Cunhal à luta em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português sempre valeu por si própria, dispensando honrarias».
Mas quem não dispensa as honrarias é esta gente obcecada com o Panteão, correndo já uma vozearia ora propondo que todos os Presidentes da República tenham lugar garantido no mausoléu nacional, ora convocando os mortos da guerra colonial porque «também morreram pela pátria» ou, mais comedidamente, apontando Zeca Afonso ou Aristides Sousa Mendes (entre muitos outros) a merecerem lugar no Panteão, aparentemente sem ninguém se aperceber que a antiga Igreja de Santa Engrácia, tornada Panteão Nacional, é um lugar finito e já bastante preenchido.
As obras de Santa Engrácia ficaram famosas porque nunca mais acabavam. Não façam o mesmo com os candidatos ao Panteão ou corremos o risco de ter uma multidão de entidades mortas a acumular-se, à porta, dum monumento sobrelotado.