Tudo isto é bola…
Este artigo é sobre futebol. Como nos recusamos contribuir para o lixo televisivo em torno de uma luta de poder dentro de um clube de futebol, iremos focar-nos no campeonato do Mundo. Com a sua realização na Federação Russa não é só a bola e o amor à camisola nacional que dita o tratamento mediático em Portugal. Não são poucos os exemplos do aproveitamento deste evento para desferir, de forma aparentemente inocente e descomprometida, bicadas no país que recebe e organiza o campeonato. Desde hinos com títulos como «assalto ao kremlin», até comentários com pequenos ou grandes ódios à Rússia, à União Soviética e à sua história, são muitos os exemplos da postura russófoba e anticomunista que anima algumas almas.
Uma das rubricas televisivas sobre o campeonato intitula-se «Ronaldo no país dos sovietes». O inefável José Milhazes e uma jornalista de origem ucraniana brindam-nos com alarvidades como a ideia de que, à partida, os russos são desconfiados e não gostam de estrangeiros, que os oficiais de polícia nas fronteiras russas são «carrancudos», e que se forem hospitaleiros é porque receberam «ordens de cima» para o fingir ser, aliás «como sempre na Rússia». Não falta a chamada de atenção para nunca, em caso algum, se discutir política com russos, «sobretudo se for para discordar da invasão da Crimeia ou da intervenção militar russa na Síria». A justificação para tais atoardas, é que na Rússia -, «país de Lenine e Putin» - «a propaganda antiocidental volta a atingir os níveis alcançados na época soviética».
Ou seja, com um ar desprendido e cândido, e sempre a «falar de futebol», coloca-se no ar, para milhões, mensagens de propaganda política e ideológica, que, alimentando a ideia do «perigo russo», replicam, décadas depois, o mesmo ódio e xenofobia que noutros momentos foi desferido contra a União Soviética. Mas lá está… os senhores estão só a falar de futebol, não de política… é como nós, com este artigo, tudo isto é bola.