Hipocrisia e verdade

Manuel Rodrigues

Dizendo-se muito preocupado com o nível da taxa de natalidade em Portugal, o presidente do PSD, Rui Rio apresentou na passada segunda-feira o documento «Uma Política para a Infância» com medidas que estima possam custar entre 400 a 500 milhões de euros «em situação de cruzeiro».

Ora, conhecendo nós o modo como o PSD tem contribuído, no governo e fora dele, para o aumento do desemprego nomeadamente entre os jovens; conhecendo nós a convergência entre PS, PSD e CDS sempre que se trate de agravar a legislação laboral ou manter as suas normas gravosas com consequências nefastas na contratação colectiva, salários, horários, férias, vínculos laborais, condições de trabalho que tanto penalizam as famílias (como aconteceu ainda há pouco), ficamos a perceber quão «sinceras» são as preocupações de Rui Rio com a natalidade em Portugal.

Por sua vez, o PCP entregou na AR um conjunto de iniciativas que pretendem contribuir para a promoção dos direitos das crianças e também para a sua efectivação: alargamento do abono de família, com vista à sua universalização; reforço dos direitos dos pais no acompanhamento aos filhos, em situação de doença crónica e oncológica ou em situações de acidente; reforço dos cuidados de saúde primários, designadamente naquela que é a área da saúde infantil com a garantia de um médico e um enfermeiro de família ou até um pediatra nos cuidados de saúde primários, entre outras.

Questões como as da natalidade são, de facto, indissociáveis dos direitos das crianças e seus pais e só é possível resolvê-las com políticas que valorizem os trabalhadores, como faz o PCP. Mas, para o PSD, juntamente com PS e CDS, a prioridade é o défice orçamental, não é o défice demográfico, por mais que proclamem o contrário. E, sempre que estão em causa interesses do grande capital, as medidas vão todas para ele. À velocidade de foguete.




Mais artigos de: Opinião

Pela bitola das grandes potências

Aproximando-se a realização do Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho – para o qual são de novo anunciadas decisões –, assume particular significado os sinais que a Alemanha vai dando quanto às suas intenções, nomeadamente pela voz de Merkel. Perante a tentativa do grande capital francês, protagonizada por Macron, em...

Itália, está tudo dito

Quando este artigo for publicado já o parlamento italiano terá votado a posse do novo governo italiano de coligação entre os fascistas da Liga Norte e o Movimento 5 Estrelas. Sem prejuízo de um necessário aprofundamento, o facto merece três apontamentos telegráficos: 1 - O Movimento 5 estrelas, que se diz sem ideologia...

Uma vez mais

Confirmou-se o acordo entre o Governo PS, o grande patronato e a UGT em torno das alterações ao Código do Trabalho. Uma vez mais ficou claro o papel da concertação social enquanto instrumento de legitimação das sucessivas machadadas que foram sendo dadas nos direitos dos trabalhadores. Antes em nome da competitividade e...

Jogos

Graças ao massacre mediático a que o País tem estado sujeito poucos serão os portugueses que nunca ouviram falar da saga BrunodeCarvalhoSportingclubista, sacrilégio só admissível por ponderosas e comprovadas razões de força maior, tipo estado comatoso ou morte declarada. A importância dada ao tema, que arrolou quase tudo...

Sem concerto

O anúncio – como se coisa positiva fosse – de mais um acordo na Concertação Social, juntando as associações patronais, o Governo PS e, como não podia deixar de ser, a sempre pronta UGT, e cujos conteúdos o Avante! trata com rigor, merece alguns reparos.