Hipocrisia e verdade
Dizendo-se muito preocupado com o nível da taxa de natalidade em Portugal, o presidente do PSD, Rui Rio apresentou na passada segunda-feira o documento «Uma Política para a Infância» com medidas que estima possam custar entre 400 a 500 milhões de euros «em situação de cruzeiro».
Ora, conhecendo nós o modo como o PSD tem contribuído, no governo e fora dele, para o aumento do desemprego nomeadamente entre os jovens; conhecendo nós a convergência entre PS, PSD e CDS sempre que se trate de agravar a legislação laboral ou manter as suas normas gravosas com consequências nefastas na contratação colectiva, salários, horários, férias, vínculos laborais, condições de trabalho que tanto penalizam as famílias (como aconteceu ainda há pouco), ficamos a perceber quão «sinceras» são as preocupações de Rui Rio com a natalidade em Portugal.
Por sua vez, o PCP entregou na AR um conjunto de iniciativas que pretendem contribuir para a promoção dos direitos das crianças e também para a sua efectivação: alargamento do abono de família, com vista à sua universalização; reforço dos direitos dos pais no acompanhamento aos filhos, em situação de doença crónica e oncológica ou em situações de acidente; reforço dos cuidados de saúde primários, designadamente naquela que é a área da saúde infantil com a garantia de um médico e um enfermeiro de família ou até um pediatra nos cuidados de saúde primários, entre outras.
Questões como as da natalidade são, de facto, indissociáveis dos direitos das crianças e seus pais e só é possível resolvê-las com políticas que valorizem os trabalhadores, como faz o PCP. Mas, para o PSD, juntamente com PS e CDS, a prioridade é o défice orçamental, não é o défice demográfico, por mais que proclamem o contrário. E, sempre que estão em causa interesses do grande capital, as medidas vão todas para ele. À velocidade de foguete.