Desmancha-prazeres

Filipe Diniz

Não há neste texto qualquer intenção de retirar brilho ao «maravilhoso casamento». Trata-se apenas de registar algumas medidas que foram tomadas para que nada desse brilho fosse ofuscado.

Com a devida antecipação, a polícia de Londres tratou de remover os inestéticos sem-abrigo que se instalam próximo do Castelo de Windsor. Pegou nos seus magros bens (sacos-cama, roupas, colchões, e também revistas, livros e outros objectos) e informou que estes seriam guardados até 2.ª feira, «como parte de medidas de segurança adicionais». Um autocarro de dois andares que é a residência de 10 sem-abrigo foi rebocado e retido, «por haver dúvidas sobre a carta do condutor». Propriedade de uma instituição (The Ark Project) e estacionado em terreno privado, nada disso impediu os seus ocupantes de serem chutados e de ficarem na rua, mas longe.

Os números oficiais indicam que na Grã-Bretanha há 4751 sem-abrigo, dos quais perto de 1200 em Londres. Entidades não-governamentais consideram que os números reais são quase o dobro. Neste rigoroso Inverno de 2017–18, morreram de frio 93.

O fenómeno é global. A OCDE estimava em 2015 a existência de 150 milhões de sem-abrigo em todo o mundo. E os números mais impressionantes não eram os dos países mais pobres, mas os de países ricos, de sociedades de enorme desigualdade.

Trata-se de um traço da pobreza extrema de milhões de seres humanos, de um fenómeno em crescimento. Não faltam lágrimas de crocodilo sobre a questão. Mas o capitalismo não pode, nem quereria resolvê-la. E uma das razões será que o «exército de reserva» de que dispõe actualmente ultrapassa em muito as suas necessidades. Para o capitalismo são mais do que sem-abrigo, são humanos excedentários.




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