Paz para a Coreia!

Albano Nunes

Não há alternativa para a solução política negociada do conflito

Só a assinatura de um acordo de paz pode pôr finalmente fim à situação de confrontação e de guerra que se vive na Coreia desde que no final da II Guerra Mundial este país começou a ser libertado da ocupação japonesa pelas forças patrióticas dirigidas por Kim Il Sung. A guerra de 1950/53, que custou a vida a milhões de coreanos, terminou com um simples armistício. As tropas norte-americanas nunca saíram do Sul da Coreia. Os EUA recusaram sempre assinar um acordo de paz para pôr fim à situação de guerra. No quadro da sua política de «contenção do comunismo», convinha-lhe manter na região um poderoso dispositivo militar dirigido não apenas contra o Norte socialista, mas sobretudo contra a União Soviética e a República Popular da China. Foi isso que durante a «guerra fria» tornou a Península da Coreia um foco de tensão tão perigoso como o criado em torno de Berlim Ocidental.

É importante ter isto bem presente no momento em que hoje, 27 de Abril, os presidentes da República Popular Democrática da Coreia e da República da Coreia, Kim Jong-un e Moon Jae-in, se vão encontrar em Panmunjong e se anuncia para algumas semanas depois um encontro dos presidentes da RPDC e dos EUA. Encontros que têm lugar num clima bem diferente daquele que ainda há pouco tempo parecia colocar o mundo à beira de uma guerra nuclear. De facto, não há alternativa para a solução política negociada do conflito. Os importantes passos já dados no relacionamento Norte/Sul e o clima de desanuviamento criado com o abandono da demencial retórica de «fogo e fúria» geram legítimas expectativas. Mais do que especular sobre as razões que levaram a este volte face na questão coreana, em que da aparente iminência de confronto militar se passou para a mesa das negociações – como por exemplo se «Pyongyang foi vergado» pelo peso das brutais sanções que lhe foram impostas ou se foram os EUA que se viram forçados a reconhecer a RPDC como potência nuclear –, o que importa é agarrar com unhas e dentes a oportunidade que se abre à desescalada da confrontação e dar passos corajosos para um acordo de paz que ponha finalmente fim à situação de guerra existente.

Não é um caminho fácil. Já foi encetado em ocasiões anteriores e fracassou aparatosamente, fundamentalmente porque o imperialismo norte-americano nunca desistiu da sua pretensão de dominar, de parceria com o Japão, toda a região; nunca desistiu, à semelhança do que fez em Seul com o fascista Syngman Rhee, de impor ao povo da RPDC um regime títere; nunca aceitou retirar da região as suas poderosas forças militares nem pôr fim a manobras militares que são de facto ensaios de uma eventual invasão do Norte; nunca aceitou dar as garantias de segurança que a RPDC reclamou para pôr de lado o seu programa de defesa nuclear. Claro que ninguém exige que as partes em diálogo reconheçam explicitamente as suas responsabilidades na perigosíssima situação a que se chegou. Isso ficará para a História. Agora o que é necessário é o respeito pela Carta da ONU e a legalidade internacional, é o respeito pela soberania da RPDC, é o reconhecimento ao povo coreano do direito à reunificação soberana e pacífica da sua pátria milenar.




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