Brisas e tempestades na IP
Os trabalhadores da Infra-estrutura de Portugal (IP) estão em luta. Realizaram já duas grandes greves, com elevada adesão e impacto operacional. Na mais recente, o Governo, mentindo, veio dizer para a Comunicação Social que teria oferecido 11,6 milhões de euros de aumentos salariais e que os malandros dos sindicatos ainda assim haviam recusado. Teve resposta célere que o calou: onde é que assinámos esse aumento?
A verdade é que a proposta do Governo não chegava a um aumento de custos para a IP de um milhão de euros por ano (20 euros a 8 meses, um mês a 25, por 3700 trabalhadores). A reivindicação de aumento salarial dos trabalhadores pouco passava dos dois milhões anuais (40 euros por 14 meses por 3700 trabalhadores).
Entretanto o dinheiro da IP escorre para os grandes grupos económicos como se de água se tratasse. A IP tem compromissos fixos de mais de mil milhões ano com as PPP, que já aumentaram este mês, fruto da decisão de um Tribunal Arbitral, onde a IP foi condenada a pagar mais 200 milhões de euros a uma participada da Brisa (Autoestradas do Douro Litoral). Decisões estas que são recorrentes: recordamos outra que passou 153 milhões directamente para a Brisa, ou a que entregou 114 milhões à Brisal, controlada pela Brisa.
Esses Tribunais Arbitrais são parte dos mecanismos criados nos infames contratos das PPP, sendo composto por gente indicada pelo Estado e pelas concessionárias e que regularmente vão concertando a transferência de centenas de milhões do primeiro para as segundas. E o mesmo Governo, que em nome do défice e da salvação das contas públicas resiste ao aumento dos salários, cede perante este esbulho e vai negociando com estes alarves em vez de se libertar deles.