Massacre de manifestação palestiniana convoca ao reforço da solidariedade
PALESTINA Subiu para 17 o número de palestinianos assassinados por Israel no protesto da passada sexta-feira, 30, em Gaza, massacre que o PCP condenou. Na ONU, os EUA impedem o apuramento do sucedido.
O massacre espelha a dramática realidade do povo palestiniano
Com o falecimento de um jovem resistente palestiniano de 29 anos, na segunda-feira, 2 de Abril, ascendeu a 17 o número de palestinianos assassinados na sequência da violenta repressão perpetrada por Israel contra uma manifestação na Faixa de Gaza. Tal como os 16 assassinados na sexta-feira, 30 de Março, também esta última vítima sucumbiu aos tiros disparados por soldados israelitas. E a cifra pode ainda tornar-se mais trágica, uma vez que entre os quase 800 palestinianos atingidos por balas (ao que acrescem cerca de 600 feridos por inalação de gás lacrimogéneo), pelo menos 19 encontram-se em estado crítico, informaram as autoridades de saúde palestinianas.
Na sexta-feira, 30, dezenas de milhares de palestinianos (mais de 40 mil, de acordo com a agência espanhola EFE) participaram junto à fronteira do enclave na primeira jornada de um protesto que se prolonga até ao próximo dia 15 de Maio, quando se cumprem 70 anos sobre a expulsão de quase 800 mil palestinianos dos seus territórios por parte de Israel, dia denominado por «Catástrofe» (Nakba, na transliteração árabe).
A 30 de Março, por outro lado – e esse foi o motivo das manifestações –, assinala-se o aniversário do assassinato pelos sionistas de seis palestinianos, em 1976, justamente quando contestavam a ocupação das respectivas propriedades pelos israelitas, que ali instalaram colonatos judeus. Desde então, o penúltimo dia de Março é na Palestina o Dia da Terra.
Este ano, a convocatória foi feita sob a bandeira da afirmação do direito ao regresso dos palestinianos e respectivos descendentes aos territórios de onde tem vindo a ser expulsos por Israel desde 1948, conforme é, aliás, reconhecido pelas Nações Unidas. A Frente Popular para a Libertação da Palestina caracterizava, em comunicado divulgado na página da organização na Internet, no dia 30, a iniciativa como um autêntico referendo à disponibilidade do povo palestiniano para prosseguir a resistência pelos seus direitos nacionais.
Ciente do simbolismo histórico, da vitalidade dos objectivos e da ampla mobilização que se preparava, bem como do facto de ser a acção inaugural de seis semanas de uma luta que vai terminar a 15 de Maio, tendo um ponto alto na véspera, 14, quando se prevê que seja aberta a embaixada dos EUA em Jerusalém, Israel avisou, dia 28 de Março, que reforçaria o dispositivo militar ocupante na Faixa de Gaza, incluindo com franco-atiradores e armamento pesado. Ninguém podia porém antecipar o massacre dirigido a desfiles e concentrações pacíficas.
No sábado, 31, já depois de o secretário-geral da ONU, António Guterres, e da alta-representante da diplomacia da UE, Federica Mogherini, terem exigido um inquérito ao uso de fogo real por parte de Israel, a AFP apurou que os EUA bloquearam, no Conselho de Segurança, uma declaração que apelava «todas as partes à contenção» e o apuramento do sucedido por uma comissão independente, e reafirmava «o direito ao protesto pacífico».
PCP condena
Também no sábado, o PCP emitiu uma nota de imprensa na qual sublinha que «o autêntico massacre deste dia 30 de Março de 2018 espelha a dramática realidade do povo palestiniano – expulso da sua terra, vivendo sob a ocupação ou espalhado pelos campos de refugiados, vítima permanente de guerras, chacinas e brutais actos de repressão», não encontrando «da parte da chamada comunidade internacional, qualquer perspectiva de solução política que assegure aquilo que lhe é prometido, desde há sete décadas, em numerosas resoluções das Nações Unidas: a criação de um Estado viável e soberano, em território palestiniano, com Jerusalém Leste como capital, assegurando o direito de regresso dos refugiados».
Para o Partido, «a provocação do presidente dos EUA, Donald Trump, ao anunciar o reconhecimento de "Jerusalém indivisa" como capital de Israel e a transferência da sua embaixada para essa cidade, contrariando abertamente todas as resoluções da ONU e os próprios compromissos dos EUA relativos ao estatuto daquela, mostram não apenas, a permanente cumplicidade da superpotência imperialista com os crimes de Israel, como a hipocrisia de repetidos apelos a soluções políticas, aos quais nunca correspondem actos concretos».
Solidariedade
No texto, «o PCP apela ao reforço da solidariedade com o povo palestiniano e a sua heróica luta, neste ano em que se assinalam os 70 anos da Nakba – a catástrofe da limpeza étnica dos palestinianos que acompanhou a criação, em 1948, do Estado de Israel. Uma solidariedade que terá de encontrar expressão concreta nos próximos dias e semanas, com destaque para o dia 14 de Maio, dia da anunciada provocação de Trump».
O Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente – MPPM, por seu lado, reclamou que «o Estado português, na sua acção diplomática, expresse a sua condenação das acções repressivas do Estado de Israel e exija da sua parte o estrito respeito pelo direito de manifestação livre». Já o Conselho Português para a Paz e a Cooperação, evocando o Dia da Terra, o qual «representa a heróica resistência do povo palestino contra o ocupante sionista travada com uma enorme desproporção de meios», reafirmou «a sua determinação em prosseguir e intensificar as acções de solidariedade com a Palestina e realça o caminho que urge seguir para garantir a paz no Médio Oriente e os direitos inalienáveis do povo palestino, reconhecidos por cada vez mais estados, organizações e pessoas: o fim da ocupação, o desmantelamento dos colonatos e do muro de segregação e o fim do cerco a Gaza, a interrupção imediata de quaisquer acções militares contra território palestino, a libertação de todos os presos políticos palestinos dos cárceres israelitas e o estabelecimento do Estado da Palestina, com o reconhecimento do direito de regresso dos refugiados».