Rússia interessada em apurar o caso Skripal
A Federação Russa pretende que especialistas por si indicados integrem a equipa da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) que está a analisar a substância que envenenou o ex-espião Sergey Skripal e a sua filha. Caso contrário «não aceitaremos nenhum resultado da investigação», vincou o representante do Kremlin na OPAQ.
As autoridades de Moscovo defendem que a OPAQ deve limitar-se a identificar a «composição química do veneno sem indicar o país de origem», uma vez que tal não só não faz parte das suas competências como seria puramente especulativo, sugerem.
A Rússia solicitou à OPAQ que remetesse os resultados dos pretensos exames realizados ao tóxico pela Grã-Bretanha, os quais estarão na base da acusação britânica, que atribui aos russos a autoria do ataque aos Skripal. Londres, no entanto, recusa qualquer partilha de dados e, para além das análises, rejeitou por estes dias responder a uma série de perguntas formuladas pela Rússia, designadamente sobre os contornos do ataque e quanto ao envolvimento da França na análise do agente químico.
Objectividade
Na segunda-feira, 2, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros acusou a Grã-Bretanha, os EUA e «vários países que os seguem cegamente» de terem «abandonado todo o decoro» recorrendo «abertamente à mentira e à desinformação». Sergei Lavrov reiterou a exigência da apresentação, por parte de Londres, de provas inequívocas do envolvimento da Rússia, e o interesse em colaborar numa investigação isenta e objectiva dos factos.
Moscovo não tinha qualquer interesse em liquidar Sergei Skripal, garantiu também Lavrov. Ao contrário do governo da Grã-Bretanha, que «está numa situação desconfortável pela incapacidade para cumprir as promessas feitas aos eleitores sobre as condições do "Brexit"», disse.
Condenado na Rússia a 13 anos de prisão por traição (terá entregue informação de Estado aos ingleses, que pretensamente o recrutaram nos anos 90), o agente secreto Sergei Skripal foi incluído numa troca de operacionais entre Londres e Moscovo.
A 4 de Março terá sido encontrado inconsciente junto da sua filha, Yulia, cidadã russa, ambos alegadamente vítimas de uma substância que ataca o sistema nervoso central, a qual foi inicialmente desenvolvida pela URSS no século passado. Este último elemento é o principal argumento de acusação à Rússia.
O caso desencadeou a maior crise diplomática desde o fim da chamada Guerra Fria, impulsionada por britânicos, norte-americanos e outros aliados ocidentais, que até ao final de Março expulsaram dezenas de diplomatas russos em vários países (sobretudo da União Europeia). O Kremelin retaliou e, no total, cerca de 300 embaixadores e funcionários de representações da Federação Russa em diversas nações, e bem assim congéneres destas na Federação Russa, foram já afectados.
PCP quer factos esclarecidos
Em nota divulgada dia 29 de Março, o PCP sublinha que as circunstâncias do envenenamento dos Skripal estão ainda por esclarecer, «nomeadamente em torno da substância utilizada e da sua origem, envoltas em controvérsia».
«Entretanto, um conjunto de medidas, incluindo a expulsão de diplomatas russos, foi adoptado por alguns países e pela NATO. Tal situação ocorre num momento em que se desenvolve um conjunto de manobras e pressões no quadro do processo de saída do Reino Unido da União Europeia, e em que a situação internacional é marcada pela escalada de tensão e confronto levada a cabo pelos EUA e seus aliados, que se expressa no aumento das despesas militares e na corrida aos armamentos, na promoção de sanções, bloqueios económicos e guerra comercial, no fomento de acções de desestabilização e agressão, contra diversos países em diversas partes do mundo, nomeadamente no Médio Oriente –, escalada que representa uma séria ameaça à paz e à segurança mundiais», acrescenta o Partido.
«O que se impõe neste momento é o cabal esclarecimento do incidente, incluindo dos seus responsáveis, no quadro e respeito das normas do Direito Internacional, e não declarações e decisões que, não assentes em provas e factos concretos, visam apenas alimentar uma lógica de confrontação internacional de consequências imprevisíveis», salienta-se igualmente no texto distribuído pelo gabinete de imprensa comunista.
Quanto a Portugal, o PCP considera que «a política externa portuguesa deve ser soberana e autónoma e não determinada ou condicionada por quaisquer outros desígnios que não os interesses do País e do povo». Por isso «é responsabilidade do Governo garantir que o País não se associa a qualquer escalada de tensão e confronto de âmbito internacional, no cumprimento dos princípios da Constituição da República, num caminho que assegure a paz e a cooperação entre os povos».