Greves de professores alastram nos EUA

António Santos

A greve dos pro­fes­sores da Vir­gínia Oci­dental que, no mês pas­sado, ter­minou com uma es­tron­dosa vi­tória dos tra­ba­lha­dores, foi o ca­ta­li­sador das pa­ra­li­sa­ções de do­centes de­cre­tadas no Ken­tucky e no Oklahoma, Es­tados a que muito em breve se po­derá juntar o Ari­zona.

Foi no Ken­tucky que, na sexta-feira pas­sada, a greve co­meçou. Os pro­fes­sores, que pro­testam contra cortes dra­co­ni­anos nos planos de pen­sões pú­blicas, ul­tra­pas­saram os cons­tran­gi­mentos le­gais que proíbem a greve de­cla­rando-se do­entes nesse dia. Igual­mente ul­tra­pas­sados foram os sin­di­catos fe­de­rais e es­ta­duais que, mais ou menos rei­te­ra­da­mente, pro­cu­raram de­mover da greve os pro­fes­sores. Com efeito, a greve de du­ração in­de­ter­mi­nada, ape­li­dada de «sel­vagem» mas que na ver­dade é apenas es­pon­tânea, foi or­ga­ni­zada pela In­ternet sem o apoio da As­so­ci­ação Na­ci­onal de Edu­cação ou da As­so­ci­ação de Edu­cação do Ken­tucky. Ainda assim, o De­par­ta­mento de Edu­cação deste Es­tado in­formou que mais de me­tade das es­colas con­ti­nu­avam fe­chadas na se­gunda-feira, dia em que mi­lhares de pro­fes­sores se ma­ni­fes­taram em frente ao ca­pi­tólio es­ta­dual, em Frank­fort.

Também se­gunda-feira, o Oklahoma, se­gundo Es­tado na lista dos pi­ores sa­lá­rios do­centes nos EUA, deu con­ti­nui­dade ao pro­testo. Re­jei­tando a apro­vação pelo Con­gresso es­ta­dual, na quinta-feira pas­sada, de um au­mento de 6000 dó­lares anuais por tra­ba­lhador por opo­sição aos 10 000 rei­vin­di­cados, mais de 30 mil pro­fes­sores deram início a uma greve ilegal que pa­ra­lisou por com­pleto vá­rias cen­tenas de es­colas. No mesmo dia, cerca de 15 mil pro­fes­sores con­cen­traram-se junto ao ca­pi­tólio, na Ci­dade do Oklahoma, en­ver­gando ca­misas ver­me­lhas e exi­gindo mais in­ves­ti­mento na edu­cação, ma­nuais es­co­lares novos, turmas mais pe­quenas e me­lhores con­di­ções ma­te­riais. Neste Es­tado, o sub­fi­nan­ci­a­mento da Es­cola Pú­blica é tão grave que vinte por cento dos es­ta­be­le­ci­mentos de en­sino já só fun­ci­onam quatro dias por se­mana.

Também no Ari­zona cresce a pressão para uma greve de pro­fes­sores. Neste Es­tado, onde há turmas de 50 alunos e a mai­oria dos pro­fes­sores pre­cisa de um se­gundo em­prego para so­bre­viver, o sub­fi­nan­ci­a­mento da Es­cola Pú­blica atingiu um ponto crí­tico e nunca o fosso entre pro­fes­sores e go­ver­nador foi tão pro­fundo: o go­ver­nador, Doug Ducey, propôs au­mentos sa­la­riais de um por cento, abaixo da taxa de in­flação de 2,2 por cento ao passo que os pro­fes­sores exigem au­mentos sa­la­riais a partir de 20 por cento.

Todos os quatro Es­tados onde a luta dos pro­fes­sores está mais acesa, Vir­gínia Oci­dental, Ari­zona, Oklahoma e Ken­tucky, são Es­tados onde Trump e o Par­tido Re­pu­bli­cano ar­ran­caram vi­tó­rias fá­ceis a Hil­lary Clinton e ao Par­tido De­mo­crata. Es­tra­nha­mente, a pos­tura dos de­mo­cratas, que têm in­sis­tido em me­no­rizar e ca­ri­ca­turar os povos destes Es­tados como es­tú­pidos, ra­cistas e ma­chistas sem sal­vação, con­tri­buiu para soltar a luta dos tra­ba­lha­dores dos freios do par­tido do burro, cri­ando o es­paço para o que é ac­tu­al­mente o maior e mais pro­gres­sista mo­vi­mento la­boral dos EUA.



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