Faleceu Carlos Pires, tipógrafo clandestino
No dia 2 de Março, com 78 anos, faleceu Carlos Pires, resistente antifascista e dedicado militante comunista. Numa nota emitida nesse mesmo dia, o Secretariado do Comité Central do PCP manifestava a sua «profunda mágoa e tristeza» e transmitia aos seus dois filhos e restante família «sentidas condolências».
Da vida de Carlos Pires o Secretariado realça a entrada para o quadro de funcionários do Partido em 1955, com apenas 15 anos, acompanhando os pais na passagem à clandestinidade. Para dar aparência normal à vida da família, chegou a trabalhar durante um ano na construção civil. Aos 17 assume nas tipografias clandestinas a tarefa de compor e imprimir o Avante!, O Militante e outras publicações e documentos que, nota o Secretariado, «alimentavam e divulgavam a luta dos trabalhadores e do povo, contribuindo para a consciencialização do povo português e mobilizando para a sua participação em importantes jornadas da luta antifascista».
Carlos Pires sentia, justamente, o orgulho de ter saído das suas mãos o último Avante! clandestino. No livro «Memórias de um Tipógrafo Clandestino», publicado pelas Edições Avante!, relata momentos dos 20 anos passados na clandestinidade, 17 dos quais como tipógrafo. É nessas páginas que afirma que este foi o seu «contributo à obra heróica de milhares de comunistas que fizeram este Partido ser o que é, lutando contra a ditadura, pelo bem-estar do nosso povo e pela Revolução Socialista». Foi também nas tipografias que conheceu a sua companheira, Fernanda Silva.
Depois do 25 de Abril, Carlos Pires assumiu diversas tarefas e responsabilidades, «sempre com a mesma dedicação e empenho, quaisquer que elas fossem», realça ainda o Secretariado. Entre elas, conta-se a fundação e direcção da CDL – Central Distribuidora Livreira, a frente autárquica, o apoio central à direcção do Partido e os arquivos, área na qual trabalhava actualmente.
No funeral, realizado no dia seguinte no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, participaram familiares, amigos e camaradas de Carlos Pires. Em nome da direcção do Partido interveio José Capucho, dos organismos executivos do Comité Central, que sublinhou, para lá das notas biográficas, que Carlos Pires tinha «gosto de viver» e constitui «um exemplo de dedicação e generosidade ao seu Partido de sempre».
Desenvolveu a sua acção partidária sempre com a consciência «de que qualquer tarefa, por mais simples que pudesse parecer, será sempre fundamental e essencial para que as grandes realizações tenham êxito», acrescentou.