Dominação e participação

Os últimos dias tornaram clara a duplicidade com que alguns entendem a independência da comunicação social e os direitos políticos de patrões e trabalhadores. No último dia do congresso do PSD, entrou triunfante Francisco Pinto Balsemão, que tinha lugar reservado na primeira fila para assistir à sessão de encerramento. Não é de estranhar quando pensamos que é o militante número 1 do partido, foi deputado, ministro e primeiro-ministro. Mas a carreira de Balsemão não começou nem acabou no PSD.

Quando ajudou a fundar o partido, já tinha sido deputado na Assembleia Nacional fascista, administrador do Diário Popular e era dono do Expresso. Entretanto, fundou um dos maiores grupos privados de media, a Impresa, ao qual juntou a SIC.

Ora, o facto de o patrão da Impresa – e, entre outros part-time, conselheiro de Estado ou membro permanente do sinistro grupo de Bilderberg – ter sido recebido como uma estrela no congresso do PSD foi tratado com toda a naturalidade, tendo sido varridas para debaixo do tapete mediático todas as condições que fariam da sua simples presença um enorme embaraço para o partido, para o próprio e para os órgãos de comunicação social que detém. Talvez assim se compreenda melhor a denúncia feita pelo Sindicato dos Jornalistas de que houve condicionamento e discriminação em relação aos fotojornalistas que cobriram o congresso do PSD.

Por outro lado, precisamente a poucos dias das eleições para o Sindicato dos Jornalistas, a lista B para o Conselho Deontológico (encabeçada pela presidente deste órgão no anterior mandato) divulgou uma declaração em que acusava o primeiro candidato da lista A de «incompatibilidade e conflito de interesses» por ser eleito numa Assembleia Municipal, não por acaso pela CDU. Os mesmos que foram incapazes de fazer uma observação ao facto que salta aos olhos de qualquer um que se preocupe com a independência da comunicação social e com o próprio regime democrático: o que significa o patrão de um dos maiores grupos de media em Portugal ter sido recebido com uma ovação, sentado na primeira fila e com a deferência do novo líder no seu discurso, no congresso do PSD?

O que preocupa alguns é o exercício dos direitos políticos por parte de um jornalista. Já o patrão, tem direitos a triplicar: à participação política, à ocultação dessa sua condição e do seu passado quando o faz, e a condicionar os direitos políticos e sindicais dos jornalistas que para ele trabalham. Não é um acaso estar vedado aos partidos a propriedade e o financiamento de estações de televisões, enquanto que os jornalistas não são diminuídos de direitos pela sua profissão.

A discriminação, a manipulação e a ocultação – de que o PCP é alvo preferencial na comunicação social dominante – não resulta da participação política e do exercício dos seus direitos pelos jornalistas. Pelo contrário, é fruto da dominação dos media por grupos económicos cujos interesses são incompatíveis com o PCP, o seu projecto e a sua intervenção.

Lamentavelmente, há quem saiba tudo isto, porventura por experiência própria, mas finja que o problema está noutro lado.




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