Stalinegrado, 1943: a mãe de todas as vitórias

Gustavo Carneiro

Stalinegrado tinha grande importância estratégica e simbólica

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A 2 de Fevereiro de 1943, há 75 anos, terminou aquela que foi a mãe de todas as batalhas, não só da Segunda Guerra Mundial, mas provavelmente de toda a história da humanidade, a batalha de Stalinegrado. Tanto pelo número de homens envolvidos e de baixas registadas como pela violência dos combates (tantas vezes travados rua a rua e casa a casa) não houve outra, antes ou depois dela, que se lhe comparasse. Mas é sobretudo a importância decisiva do que ali esteve em causa e o que a vitória soviética significou a conferir-lhe merecidamente tal título.

A rendição total das forças nazi-fascistas junto ao Volga confirmou a viragem decisiva da guerra em favor da União Soviética, que em Maio de 1945 consumou, em Berlim, após libertar toda a Europa Oriental e Central, a derrota definitiva do nazi-fascismo. Imagem icónica deste momento é a bandeira vermelha com a foice, o martelo e a estrela de cinco pontas a ondular no topo do Reichstag. Em Stalinegrado, entre Julho de 1942 e Fevereiro de 1943, combateu-se não só pelo controlo da cidade como pelo futuro da Humanidade.

Stalinegrado, pela sua posição geográfica, assumia um importante valor estratégico. A sua queda permitiria ao agressor nazi-fascista dividir a União Soviética, isolando o Centro do Sul do país, e apoderar-se do Volga, por onde seguia uma boa parte dos abastecimentos das tropas soviéticas. Ao mesmo tempo, abrir-lhe-ia o caminho para o Cáucaso e a Ásia Central e os seus valiosos recursos minerais.

O valor simbólico da cidade não era menor (ou não fosse o seu nome um tributo ao principal dirigente soviético desse período), só comparável ao da capital Moscovo e de Leninegrado, berço da Revolução socialista nomeada em homenagem ao seu mais destacado obreiro.

«Nem um passo atrás!»

A guerra relâmpago que permitiu aos exércitos nazi-fascistas conquistar, quase sem disparar um tiro, não apenas França, Bélgica e Países Baixos como toda a Europa Central e Oriental, sofreu os primeiros reveses na União Soviética, onde os alemães tinham concentrado a esmagadora maioria das suas forças, dada a inexistência de uma segunda frente a Ocidente. A tenacidade dos defensores de Brest, Sebastopol e Leninegrado travou o passo aos agressores, que sofreram nos arredores de Moscovo, em finais de 1941, a sua primeira derrota em toda a guerra. A iniciativa, porém, continuava do seu lado.

A violenta ofensiva contra Stalinegrado, lançada no Verão de 1942, garantiu aos nazi-fascistas importantes sucessos iniciais, colocando-os numa situação privilegiada para a tomada definitiva da cidade, pese embora a combatividade demonstrada pelos seus defensores. A 28 de Julho, no período mais negro da batalha, é emitida a ordem n.º 227, assinada pelo próprio Stáline: «o tempo da retirada acabou, nem mais um passo atrás!»

Os meses seguintes foram recheados de episódios de heroísmo e abnegação revolucionária e patriótica por parte das tropas soviéticas, dos comunistas e da população da cidade. O atirador Vassili Zaitzev que abateu centenas de oficiais alemães; os 24 elementos da guarnição da chamada «casa de Pavlov», que provocaram mais baixas ao inimigo na defesa de um único edifício do que estes sofreram em toda a tomada de Paris; a tripulação de um tanque soviético, incendiado, que antes de morrer destruiu quatro tanques alemães; ou os 33 soldados do 379.º regimento de infantaria, que durante dois dias e duas noites combateram forças muito superiores e derrotaram 27 tanques e 100 soldados inimigos – são alguns dos múltiplos exemplos de heroísmo essenciais para a vitória soviética em Stalinegrado.

Também a superior condução das operações militares por parte da URSS foi decisiva para deter a ofensiva nazi-fascista em toda a linha e, a partir de Novembro, passar ao contra-ataque: a 31 de Janeiro de 1943 o marechal-de-campo Von Paulus, comandante das tropas agressoras, rende-se; dois dias depois são derrotadas as últimas forças atacantes.

Foi em Stalinegrado – onde o nazi-fascismo perdeu cerca de um milhão e meio de homens – que se decidiu o destino da guerra e caiu por terra o plano de dominação de Hitler e dos monopólios que o suportavam.

 



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