Falência da Carillion e bónus obscenos
REINO UNIDO O dirigente do Partido Trabalhista inglês Jeremy Corbyn defende que os directores da empresa de construção Carillion, falida, devem devolver os bónus multimilionários que receberam em libras esterlinas.
Empresas privadas a desviar dinheiro do erário público
A tomada de posição do líder trabalhista ocorre na sequência do pedido de insolvência, em meados de Janeiro, desta que é a segunda maior empresa de construção do Reino Unido, com centenas de contratos com o sector público. Com a Carillion apresentando um défice acumulado de 1.5 mil milhões de libras, os directores não se coibiram de receber um bónus de quatro milhões de libras esterlinas em 2017, como denunciou o jornal The Independent.
«É altura de pôr fim às políticas de privatização fraudulentas que provocaram graves danos aos nossos serviços públicos e despojaram a população de milhares de milhões de libras», considera Corby, para quem «este é um momento decisivo».
Fazendo notar os estragos causados no sector público pelo «dogma de externalizar» serviços e o facto de «com frequência serem as mesmas empresas que passam de um serviço para o outro» baixando a qualidade dos serviços prestados e embolsando dinheiro dos contribuintes, o dirigente trabalhista lembrou que os serviços públicos britânicos – saúde, transportes ferroviários, prisões, habitação para as forças armadas – estão a «lutar depois de anos de austeridade e de empresas privadas a desviar dinheiro do erário público».
Pensionistas lesados
A comissão do trabalho e pensões do parlamento britânico, que analisou a situação da empresa, concluiu entretanto que, nos últimos dez anos, a Carillion tentou livrar-se das suas obrigações para com os seus aposentados. A empresa invocou problemas de liquidez de caixa para não fazer contribuições de pensões mais elevadas em 2011 e 2013, mas pagou mais de 70 milhões de libras em dividendos no mesmo período, refere a comissão.
Previa-se que o responsável pela gestão do fundo de pensões, Robin Ellison, fosse ouvido anteontem no parlamento.
Também o departamento nacional de auditoria britânico corrobora a convicção de Jeremy Corby de que o país não ganhou nada com as parcerias público-privadas. Num parecer citado pelo jornal The Guardian, o departamento afirma que «encontrou poucas evidências de que o investimento do governo em mais de 700 projectos público-privados existentes tenha tido benefícios financeiros». O custo desses projectos pode exceder entre 40 por cento (para escolas) e 70 por cento (para hospitais) os valores que teriam se dependessem exclusivamente do erário público.