Democratas oferecem vitória a Trump

António Santos

Após umas meras 60 horas de paralisação do governo federal dos EUA, os democratas no Senado e na Câmara dos Representantes devolveram o balão de oxigénio a Trump sem terem alcançado em troca quaisquer das suas exigências em matéria de imigração.

Trata-se de um adiamento, é certo: daqui a três semanas, a questão do financiamento do estado federal colocar-se-á outra vez, mas nessa altura os republicanos estarão em melhor posição para impor os termos da negociação. Há três meses que os dois partidos dançam sempre os mesmos passos: quando os democratas recuam, em nome do diálogo, na defesa dos trabalhadores imigrantes, os republicanos sentem-se mais confortáveis para fazer um jogo de «tudo ou nada» e rejeitar as reivindicações democratas por atacado; quanto mais inflexíveis se mostram os republicanos, mais confortáveis se sentem os democratas para, em nome da responsabilidade institucional, ceder às crescentes condições dos republicanos.

Não te deixamos dormir

E a cada dia que passa agudiza-se a situação dos cerca de 800 mil ex-beneficiários do DACA (a lei que protegia da deportação os imigrantes que, ainda menores, foram levados para os EUA) e dos mais de 300 mil imigrantes contemplados pelo TPS (um programa humanitário para o acolhimento de cidadãos de países afectados pela violência e desastres naturais). Foi, aliás, o próprio Trump a colocar em evidência a inutilidade das negociações quando, numa reunião de Estado, se terá perguntado por que razão é que os EUA recebem imigrantes de «países de merda». Convém referir que os imigrantes a que Trump se referia (El Salvador, Haiti, Nicarágua, Honduras e outros países africanos) precisaram de emigrar por causa das intervenções imperialistas dos EUA nos seus países.

Os democratas já se predispuseram a aceitar a militarização da fronteira com o México e a construção do infame muro; já concordaram em retirar direitos de reunificação familiar, em facilitar as deportações, em dificultar o processo legal de imigração e em rever, pela negativa, os direitos dos ex-DACA. A cada cedência democrata, a posição política de Trump fica cada vez mais firme.

Entretanto, nas ruas dos EUA, faz-se sentir a indignação dos trabalhadores que viveram toda a sua vida nos EUA e que agora correm o risco de ser deportados. Esta terça-feira, milhares de ex-beneficiários do DACA, informalmente conhecidos como «dreamers», manifestaram-se em frente à casa do líder democrata no Senado, Charles Schumer, em Brooklyn, Nova Iorque, sob o lema «Se não nos deixares sonhar, nós não te deixamos dormir».




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