Independência faz-de-conta

O grupo restrito de comentadores que intervêm sobre a actualidade política no espaço mediático e sem contraditório, em particular nas televisões, é reconhecidamente discriminatório e marcado pela exclusão do PCP. Já o disseram estudos, observatórios ou o provedor do telespectador da estação pública.

Mas dentro deste grupo, há uma elite: os que o fazem em canal aberto.

A opção editorial das duas estações privadas de dar «tempo de antena», como o director de informação da RTP caracterizou estes espaços em meados de 2015, a cada semana e em sinal aberto, a três personalidades é recorrentemente justificada com uma pretensa «independência» dos mesmos. Nada mais falso.

A TVI tem José Miguel Júdice às segundas-feiras, num espaço chamado «Porquê?». Da sua militância contra-revolucionária da década de 70 às cadeiras do poder no PSD passaram menos de dez anos. Nos últimos anos libertou-se do cartão partidário mas não das convicções de sempre: continua a destilar anti-comunismo a cada semana.

Na SIC, há dois comentadores residentes no Jornal da Noite. Há terça-feira, é Miguel Sousa Tavares. Se neste caso não lhe é conhecida filiação partidária, isso não é sinónimo de independência. Basta lembrar o que disse a propósito do centenário da Revolução de Outubro, como a afirmação de que «a Rússia nunca viveu um dia em liberdade até hoje».

Ao domingo, tem lugar cativo Luís Marques Mendes. O seu perfil público, de ex-quase-tudo o que havia para ser no PSD (governante, autarca, deputado, líder parlamentar, dirigente nacional, presidente do partido…), não permite fingir uma independência formal. E na prática, parece seguir a máxima de um antigo comentador dominical, com passado idêntico ao seu, que dizia estar a ajudar o PSD, mesmo quando dizia mal do PSD.

Os três têm em comum o seu alinhamento à direita. Se independência, está visto, não existe, credibilidade pouca sobra. É relembrar as «notícias» dadas em primeira mão por Marques Mendes que não se concretizaram, como a não eleição do ministro das Finanças para a presidência do Eurogrupo, ou as previsões falhadas de José Miguel Júdice, como a abstenção do PCP no Orçamento do Estado para este ano.

A reposição do pagamento integral dos subsídios de férias e de Natal na altura devida serviu para demonstrar a completa ausência de pluralismo no comentário político e na comunicação social nacional. À boleia da mistificação e, tantas vezes, da pura mentira, foi sendo repetido o mesmo discurso: que os trabalhadores iam perder dinheiro em Janeiro, nunca dizendo que o iriam receber no tempo devido; que estava em causa um «direito de escolha», nunca dizendo que no sector público isso nunca existiu e que no privado só menos de três por cento os recebiam em duodécimos.

A presença esmagadora de comentadores que são ou foram do PSD nos espaços de comentário fixos e sem contraditório nas televisões, a par da exclusão absoluta do PCP, atesta um pluralismo que não existe e uma independência faz-de-conta, que só serve para justificar opções políticas e ideológicas de quem detém o poder na comunicação social dominante.




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