Há milhões e milhões!
Muito gosta o ministro da Agricultura de atirar com números como quem atira areia para os olhos do povo, a mostrar serviço.
Há umas semanas anunciou a antecipação de 500 milhões de ajudas da PAC (confirmando em muito boa gente a ideia de que há quem chore sempre de barriga cheia!) para apoio aos agricultores, em resposta aos problemas da seca.
Nem essa antecipação constituiu qualquer novidade, tendo já entrado na rotina dos agricultores o recebimento da primeira tranche das ajudas do Regime de Pagamento Base no último trimestre do ano anterior a que dizem respeito, nem dá resposta aos milhares de pequenos e médios agricultores afectados pela seca porque, como se sabe, o bife do lombo desses apoios vai para os grandes agrários, uma boa parte dos quais não precisa desse dinheiro para produzir, pela razão simples de nada cultivar.
Esta semana, ouvimo-lo satisfeito falar de 60 milhões para os afectados pelos incêndios. Tal anúncio, se algum espanto pudesse criar seria pela sua estreiteza.
Desde logo porque quem tem andado pelo País percebe que os impactos dos incêndios nas explorações agrícolas, pecuárias e florestais se medem por números muito superiores a esses. Depois porque dividindo os 60 milhões de euros pelos 22 mil candidatos a ajudas dá o irrisório valor de menos de três mil euros por beneficiário, manifestamente pouco para repor todo o potencial económico perdido. Mas para lá disso, porque se sabe que todos os que tiveram perdas de rendimento duradouras, seja por perda de culturas permanentes (pomares ou vinhas, por exemplo) seja por perdas de animais (designadamente ovinos), não têm apoios previstos.
Seis meses passados sobre a tragédia de Pedrogão, que se prolongou Verão adentro, enquanto o ministro enche a boca com milhões, ficamos a pensar nos que vão engrossar a fileira dos que abandonaram a actividade, nos que, na próxima Primavera, não voltarão a lançar sementes à terra, porque os tostões que lhes chegam não são impulso suficiente para tanto.