Há milhões e milhões!

João Frazão

Muito gosta o mi­nistro da Agri­cul­tura de atirar com nú­meros como quem atira areia para os olhos do povo, a mos­trar ser­viço.

Há umas se­manas anun­ciou a an­te­ci­pação de 500 mi­lhões de ajudas da PAC (con­fir­mando em muito boa gente a ideia de que há quem chore sempre de bar­riga cheia!) para apoio aos agri­cul­tores, em res­posta aos pro­blemas da seca.

Nem essa an­te­ci­pação cons­ti­tuiu qual­quer no­vi­dade, tendo já en­trado na ro­tina dos agri­cul­tores o re­ce­bi­mento da pri­meira tranche das ajudas do Re­gime de Pa­ga­mento Base no úl­timo tri­mestre do ano an­te­rior a que dizem res­peito, nem dá res­posta aos mi­lhares de pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores afec­tados pela seca porque, como se sabe, o bife do lombo desses apoios vai para os grandes agrá­rios, uma boa parte dos quais não pre­cisa desse di­nheiro para pro­duzir, pela razão sim­ples de nada cul­tivar.

Esta se­mana, ou­vimo-lo sa­tis­feito falar de 60 mi­lhões para os afec­tados pelos in­cên­dios. Tal anúncio, se algum es­panto pu­desse criar seria pela sua es­trei­teza.

Desde logo porque quem tem an­dado pelo País per­cebe que os im­pactos dos in­cên­dios nas ex­plo­ra­ções agrí­colas, pe­cuá­rias e flo­res­tais se medem por nú­meros muito su­pe­ri­ores a esses. De­pois porque di­vi­dindo os 60 mi­lhões de euros pelos 22 mil can­di­datos a ajudas dá o ir­ri­sório valor de menos de três mil euros por be­ne­fi­ciário, ma­ni­fes­ta­mente pouco para repor todo o po­ten­cial eco­nó­mico per­dido. Mas para lá disso, porque se sabe que todos os que ti­veram perdas de ren­di­mento du­ra­douras, seja por perda de cul­turas per­ma­nentes (po­mares ou vi­nhas, por exemplo) seja por perdas de ani­mais (de­sig­na­da­mente ovinos), não têm apoios pre­vistos.

Seis meses pas­sados sobre a tra­gédia de Pe­drogão, que se pro­longou Verão adentro, en­quanto o mi­nistro enche a boca com mi­lhões, fi­camos a pensar nos que vão en­grossar a fi­leira dos que aban­do­naram a ac­ti­vi­dade, nos que, na pró­xima Pri­ma­vera, não vol­tarão a lançar se­mentes à terra, porque os tos­tões que lhes chegam não são im­pulso su­fi­ci­ente para tanto.

 



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