Pobreza, causas e opções

Manuel Rodrigues

Segundo Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, em notícia da Lusa, dia 3, este ano os portugueses doaram mais de 1000 toneladas de alimentos nos primeiros dois dias da campanha do Banco Alimentar.

«Ontem [sábado] até ao final do dia tinham sido doadas 1058 toneladas de alimentos, ou seja, mais de um milhão de quilos de alimentos que os portugueses quiseram partilhar com quem mais precisa através dos Bancos Alimentares», disse Jonet, acrescentando que isto «permite ter a certeza de que, neste Natal, há pessoas que vão ter um cabaz de alimentos porque houve outros que se preocuparam».

Que o povo português é um povo generoso e solidário já o sabíamos e muitos são os exemplos na nossa história que são expressão desses valores. Uma expressão concreta confirmada agora quer na quantidade de alimentos doados quer no número de voluntários envolvidos na mega-operação.

Mas, sinceramente, inquieta que uma responsável há tantos anos nesta «causa» não se questione sobre a raiz do problema. Ao menos para lembrar que, segundo dados da UE, um terço dos pobres em Portugal são assalariados e outro terço são pensionistas e reformados. Ao menos para apontar uma solução de fundo, que está tão à vista que só não a vê quem não quer ver ou, pior ainda, a quem dá jeito que a situação se mantenha e reproduza.

Não estará a causa da pobreza e da fome nas décadas de política de direita de sucessivos governos do PS, PSD e CDS (agravada pelo governo do PSD/CDS)? Custa assim tanto perceber que aumentando os salários e as pensões, e, em particular o Salário Mínimo Nacional para 600 euros em Janeiro de 2018, como defende e propõe o PCP, estamos a contribuir para erradicar a pobreza e a caminhar para que todos, pelo seu trabalho, tenham os alimentos de que precisam e a que têm direito? Será que custa assim tanto a declarar que as raízes da pobreza e da fome mergulham na exploração e na injustiça social e que essas é que é preciso erradicar?

 



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