A democracia deles
A exposição assinala o centenário da Revolução de Outubro. Evoca o seu significado e alcance profundos. Dá conta dos avanços libertadores que possibilitou. Afirma a validade e a actualidade do ideal que a inspirou. Ideal que inspira, ainda hoje, a luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo, pela construção de uma sociedade nova, liberta de todas as formas de exploração e de opressão.
A exposição foi levada ao Parlamento Europeu pelos deputados do PCP. A instituição e os seus dirigentes, representativos da velha e iníqua ordem cuja transitoriedade Outubro veio confirmar, num deplorável acto de censura tentaram impedir a realização da exposição. A sua exibição no espaço solicitado para o efeito (espaço onde são regularmente exibidas exposições diversas) não foi autorizada.
A exposição acabou por ser exibida na sala de reuniões do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, que se solidarizou com os deputados do PCP e denunciou publicamente a censura e o ataque à liberdade de expressão.
Na dinâmica do Parlamento Europeu esta é, obviamente, uma exposição em contra-corrente. Por estes dias, várias foram as manifestações de hostilidade em relação à Revolução de Outubro. Grotescas operações de manipulação, deturpação e reescrita da História foram levadas a cabo, com ampla divulgação. Os seus promotores são os mesmos que não hesitam em tentar calar as vozes dissonantes, cercear a liberdade de expressão, fazendo gato-sapato do dito pluralismo.
Poucos dias antes da recusa de exibição da exposição sobre a Revolução de Outubro, o Parlamento Europeu anunciou a atribuição do «Prémio Sakharov para a liberdade de pensamento» à «oposição democrática venezuelana».
Entre os laureados estão figuras como Leopoldo López, Antonio Ledezma e Lorent Saleh.
Leopoldo López participou activamente no golpe de Estado de 2002, contra o presidente Hugo Chávez e a Constituição de 1999. Em Junho último apelou a um novo golpe de Estado, incentivando sectores militares a tomarem o poder. No seu curriculum sobra ainda o envolvimento em alegados esquemas de corrupção e de financiamento ilegal do partido que fundou com Julio Borges (outro dos nomeados para o prémio), o “Primero Justicia”.
Antonio Ledezma, outra proeminente figura da oposição venezuelana envolvida no golpe de Estado de 2002, foi um público apoiante da brutal repressão que se abateu sobre o povo de Caracas, aquando do «Caracazo», em 1989, no governo de Andrés Pérez, em resposta à luta desenvolvida nas ruas contra os aumentos dos preços de bens essenciais. Repressão que terá provocado entre 300 (números oficiais) e 3000 mortos (o número estimado de pessoas desaparecidas). Em 1992, como Governador do Distrito Federal de Caracas, justificou a repressão na cadeia de Retén de Catia, na sequência do golpe falhado de Hugo Chávez, na sequência da qual centenas de presos foram assassinados.
Lorent Saleh, apresentado como líder estudantil e defensor dos direitos humanos, tem sido relacionado com movimentos de extrema-direita e com grupos paramilitares colombianos. Em 2014 foi expulso da Colômbia por «razões de segurança». Entregue às autoridades venezuelanas voltou a ser mais tarde detido por participação em manifestações violentas, estando igualmente envolvido em casos de tráfico de armas e na assumida preparação de ataques contra líderes de organizações sociais bolivarianas.
Os dois acontecimentos ilustram o real conteúdo dos princípios e valores dos quais o Parlamento Europeu se afirma porta-estandarte.