Debate na generalidade do OE para 2018

O investimento que falta como «pão para a boca»

A ne­ces­si­dade de re­forço do in­ves­ti­mento pú­blico para ní­veis que cor­res­pondam às ne­ces­si­dades do País, à re­so­lução dos pro­blemas ac­tuais e ao de­sen­vol­vi­mento do fu­turo foi um as­pecto par­ti­cu­lar­mente re­al­çado no de­bate pela ban­cada co­mu­nista.

«Por­tugal pre­cisa, como pão para a boca, de uma aposta de­ter­mi­nada e efec­tiva no in­ves­ti­mento pú­blico», afirmou o de­pu­tado co­mu­nista Bruno Dias, que lem­brou como esse in­ves­ti­mento faz falta para a mo­der­ni­zação de es­colas, hos­pi­tais, cen­tros de saúde, ins­ta­la­ções e equi­pa­mentos das forças e ser­viços de se­gu­rança, in­fra­es­tru­turas de apoio aos sec­tores pro­du­tivos.

O mesmo em re­lação aos trans­portes pú­blicos, onde é no­tória a falta de pes­soal e de meios ma­te­riais. «Os na­vios que vão tendo a ma­nu­tenção adiada su­ces­si­va­mente, os que são aba­tidos e não subs­ti­tuídos, as car­ru­a­gens que são en­cos­tadas, as ofi­cinas que não dão para as en­co­mendas», exem­pli­ficou o par­la­mentar co­mu­nista, mos­trando os efeitos reais de um in­ves­ti­mento de­fi­ci­tário que as es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores, os utentes e o PCP desde há muito de­nun­ciam.

Sem ig­norar que o ponto de par­tida foi a «po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal do go­verno PSD/​CDS-PP» - só de 2011 a 2013 o in­ves­ti­mento caiu 38,7 por cento -, Bruno Dias não deixou de cons­tatar que o cres­ci­mento pre­visto fica con­tudo muito aquém do ne­ces­sário.

O que sig­ni­fica que apesar do in­ves­ti­mento pre­visto para 2018 crescer 40 por cento e atingir os 4,5 mil mi­lhões, esse é ainda assim um valor in­fe­rior ao que foi re­gis­tado em 1996, como as­si­nalou o par­la­mentar do PCP, lem­brando que quem sai pe­na­li­zado de tudo isto são as po­pu­la­ções e os tra­ba­lha­dores, como acon­tece com o Me­tro­po­li­tano de Lisboa, em que um quarto da frota está ino­pe­ra­ci­onal, a somar a ou­tros casos com pro­blemas si­mi­lares como na Trans­tejo, e na So­flusa, na CP no Alen­tejo ou no Oeste ou nos su­bur­banos de Lisboa.

Ser­viços à míngua

Uma outra di­mensão em que os ser­viços pú­blicos estão for­te­mente ca­ren­ci­ados é na con­tra­tação de tra­ba­lha­dores. A de­pu­tada co­mu­nista Paula Santos falou mesmo na ne­ces­si­dade de serem adop­tadas neste ca­pí­tulo «me­didas ex­cep­ci­o­nais e ex­tra­or­di­ná­rias».

«Há ca­rência de tra­ba­lha­dores nos cen­tros de saúde, nos hos­pi­tais, nas es­colas, na Se­gu­rança So­cial, nos mu­seus. Faltam fun­ci­o­ná­rios ju­di­ciais, guardas pri­si­o­nais, vi­gi­lantes da na­tu­reza e sa­pa­dores flo­res­tais. Faltam tra­ba­lha­dores nas em­presas pú­blicas. Há ca­rên­cias nas forças e ser­viços de se­gu­rança», su­ma­riou, ad­ver­tindo que se não houver «me­didas efi­cazes» no sen­tido de col­matar essas ne­ces­si­dades com a con­tra­tação dos tra­ba­lha­dores em falta corre-se sé­rios riscos de ser posta «em causa a pro­xi­mi­dade», ge­rarem-se si­tu­a­ções de «rup­tura», «atrasos» e «de­gra­dação da pres­tação de ser­viços pú­blicos».

Paula Santos deu va­ri­a­dís­simos exem­plos con­cretos desse quadro de in­su­fi­ci­ência em re­cursos hu­manos que atinge a ad­mi­nis­tração pú­blica, como na saúde, onde os pro­fis­si­o­nais são su­jeitos a uma «so­bre­carga de tra­balho», ou nas es­colas, onde há agru­pa­mentos de es­cola com um único psi­có­logo para mais de três mil es­tu­dantes, ou onde a falta de as­sis­tentes ope­ra­ci­o­nais tem sido su­prida pelo Go­verno com a con­tra­tação de tra­ba­lha­dores em re­gime de tempo par­cial, con­tra­ri­ando o com­pro­misso as­su­mido de com­bate à pre­ca­ri­e­dade.

E por en­tender que esta falta de tra­ba­lha­dores nos ser­viços pú­blicos é «gra­vís­sima», e que a pro­posta de OE é «in­su­fi­ci­ente e não res­ponde às ne­ces­si­dades», Paula Santos de­fendeu me­didas ex­cep­ci­o­nais de con­tra­tação de tra­ba­lha­dores e agi­li­zação nos pro­cessos de au­to­ri­zação, para que não se re­pitam casos como o da EMEF, em que foi pe­dida au­to­ri­zação pela ad­mi­nis­tração em 2015 para con­tratar 208 tra­ba­lha­dores e só foi au­to­ri­zada a con­tra­tação de 124, es­tando os res­tantes ainda em apre­ci­ação.

O pri­meiro-mi­nistro re­co­nheceu que «há muitas ca­rên­cias» e que o «re­forço do in­ves­ti­mento é in­su­fi­ci­ente para fazer face ao dé­fice de in­ves­ti­mento que se foi acu­mu­lando» com o go­verno an­te­rior, con­cor­dando que a re­a­li­dade dos trans­portes é ex­ten­sível a toda a ad­mi­nis­tração pú­blica, que disse estar «há anos as­fi­xiada sem con­tra­tação de novo pes­soal».

Sem re­velar se está ou não dis­po­nível para adoptar al­guma me­dida de ca­rácter ex­cep­ci­onal que res­ponda às in­su­fi­ci­ên­cias iden­ti­fi­cadas, An­tónio Costa afirmou-se con­victo de que o ca­minho está em «ir pre­en­chendo os qua­dros e ao mesmo tempo ir aten­dendo ao que são os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, com­bater a pre­ca­ri­e­dade, des­con­gelar car­reiras».




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