Comentário

O BCE e os fundos abutres

Miguel Viegas

Os fundos abutres «são instituições financeiras» que se especializaram na compra de títulos de dívida de países ou instituições em dificuldades para fins especulativos. No caso típico temos um país em dificuldades financeiras, relativamente ao qual pairam dúvidas sobre a sua capacidade de poder honrar os seus compromissos. O fundo abutre vai comprar esta dívida no mercado secundário ao preço da «uva mijona» para depois cair em cima do país devedor com todo o seu arsenal de juristas para exigir o pagamento integral da dívida adquirida a preço de saldo.

Segundo um relatório da ONU de Julho de 2015, presidido pelo sociólogo suíço Jean Ziegler, foram registadas, em 2015, 277 ações judiciais em 34 países movidas por 26 fundos abutre. Destas ações, 77% foram ganhas pelos fundos de investimento, representando ganhos de 300 a 2000%. No caso do Malawi, esta derrota judicial que implicou o pagamento de dezenas de milhões de dólares obrigou à venda das reservas de milho provocando uma onde de fome e miséria em todo o país.

O caso grego é paradigmático. A partir de 2010, com o primeiro memorando, o BCE inicia um programa de compra de dívida grega no mercado secundário (salvando a pele dos bancos franceses e ingleses). Em Setembro, o BCE detinha 218 mil milhões de euros em dívida soberana grega. A compra desta dívida foi feita a preço de saldo, ou seja a menos de 30% do seu valor facial. Em março de 2012, o mesmo BCE promove uma restruturação da dívida grega com um «haircut» de 53%.

O glifosato e o agronegócio

Vejamos agora como este corte foi distribuído pelos diversos detentores desta dívida. Os bancos foram compensados com mais uma profusa injecção financeira para recapitalizar os seus balanços. As empresas públicas e os fundos de pensões gregos, fortemente expostos à dívida soberana grega ficaram a arder, agravando ainda mais a sua situação financeira. O caso dos fundos de pensões é tanto mais grave quanto tinham sido obrigados pela troika a trocar os seus activos por dívida soberana grega escassos meses antes da reestruturação. Finalmente o «haircut» não se aplicou aos títulos de dívidas possuídos pelo BCE que exigiu posteriormente o seu reembolso pela totalidade do seu valor facial.

 Segundo contas do BCE, os lucros ascenderam a 7,8 mil milhões de euros entre 2012 e 2016. Perante a escandaleira e a luta do povo grego o BCE lá teve um pouco de vergonha e comprometeu-se a devolver ao governo grego este lucro perfeitamente usurário. Assim foi nos últimos dois anos do governo da Nova Democracia. Contudo, os pagamentos cessaram com o governo do Siriza. Segundo o BCE o dinheiro é depositado num fundo de reserva e condicionado ao bom comportamento das autoridades gregas. Entre os vampiros do Zeca e os abutres do BCE venha o diabo e escolha!




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