Nova localização do Avanteatro favorece artistas e público

FESTA DO AVANTE! Localizado agora junto à nova entrada da Festa, o Avanteatro tem tudo para se afirmar ainda mais como uma das mais vibrantes iniciativas teatrais do País, garantem Manuel Mendonça e Pedro Maia, da organização.

O Avanteatro tem ainda melhores condições para se desenvolver

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Na conversa entre os dois elementos do grupo de trabalho do Avanteatro e o jornalista do Avante! falou-se de diversos assuntos: da programação deste ano ao baixo nível de investimento público na cultura, passando pelos caminhos do teatro contemporâneo e os grandes problemas políticos e sociais do nosso tempo. Mas as primeiras palavras foram para o «novo» Avanteatro, situado desde o ano passado junto à nova entrada da Festa (na Quinta do Cabo).

A mudança de local era, lembram os dois responsáveis, uma «aspiração antiga» da equipa do Avanteatro, tornada possível com o alargamento do recinto consumado na 40.ª edição da Festa, no ano passado. Para Pedro Maia, ela representou, desde logo, uma melhoria substancial das condições para a fruição de espectáculos de teatro. Antes, quando o Avanteatro se localizava junto ao Espaço Internacional, no outro extremo do recinto, «as condições acústicas não eram as melhores». Também Manuel Mendonça concorda que o novo local é «muito melhor do que o anterior».

Ambos entendem que nesta nova localização o Avanteatro está ainda em melhores condições para continuar a crescer e a afirmar-se no panorama das iniciativas teatrais que se realizam em Portugal. Aliás, realça Manuel Mendonça, se há uns anos era a comissão do Avanteatro que procurava os espectáculos para construir a sua programação, hoje são já maioritários os grupos que se propõem a participar, o que revela o crescente prestígio do Avanteatro entre os criadores de teatro.

Diversidade e qualidade

Da programação deste ano Manuel Mendonça realça a «diversidade de espectáculos e das suas proveniências», sublinhando a «forte presença» de grupos oriundos do Porto e de jovens companhias comprometidas com uma visão transformadora do mundo. Cada um à sua maneira, são os casos dos espectáculos E-nxada, A Carripana, João B., Trans/Missão, Exílios 61/74 e A Última Viagem de Lénine.

Mas a edição de 2017 do Avanteatro, como o Avante! já teve oportunidade de realçar, fica marcada pela «celebração e homenagem» – como salientou Pedro Maia – a dois nomes grandes da cultura portuguesa, por ocasião de dois aniversários «redondos»: o centenário de Romeu Correia e os 150 anos de Raul Brandão. O primeiro, realçou Manuel Mendonça, é «um dos autores mais representados deste país», representante do neo-realismo, e o Avanteatro propõe-se a recuperá-lo através dos espectáculos Bonecos de Luz e O Cravo Espanhol.

Já o segundo não é propriamente conhecido pela sua escrita para teatro. De facto, Pelos que Andam Sobre as Águas do Mar não é um vulgar espectáculo de teatro, antes um exemplo de teatro-documentário, com uma forte abordagem antropológica, como salientou Pedro Maia.

Passando para o cinema documental, que uma vez mais marca a programação do Avanteatro, a proposta desta edição é o soberbo Eu Não Sou o Teu Negro, de Raoul Peck, que aborda um dos temas mais sensíveis nos EUA, o racismo. Para a infância, o programa tem dois espectáculos de teatro (As Aventuras de Guinhol, da Companhia de Teatro de Almada, e Dom Quixote de La Mancha, pela Cegada Grupo de Teatro) e um de dança (Fobos, da Companhia de Dança de Almada).

No que respeita à música, com que fecha o Avanteatro nos três dias, as propostas são Torga, El Sur e Sebastião Antunes.

Criação como resistência

O debate – do qual se espera que, à semelhança do que tem sucedido nos anos anteriores, seja um momento alto da programação do espaço – é dedicado a um tema que afecta os criadores de teatro (e de outras artes): o ataque à cultura enquanto dimensão da democracia e o papel das autarquias no estímulo à criação e à fruição.

Para lá do mediático caso do Teatro da Cornucópia, que encerrou, Manuel Mendonça lembrou muitos outros grupos e companhias que sobrevivem com dificuldades e foram forçadas a desmantelar as suas estruturas permanentes por falta de meios financeiros. A precariedade dos trabalhadores do sector é uma das mais graves consequências.

A Companhia de Dança de Almada, por exemplo, muito embora tenha uma escola de dança e organize anualmente a Quinzena de Dança de Almada, viu ser-lhe retirada a subvenção estatal, resistindo apenas graças ao apoio da autarquia. E há muitos outros exemplos, garante Manuel Mendonça, para quem os apoios necessários à criação cultural não são apenas financeiros, muito embora estes assumam um papel primordial.

No Avanteatro, concluiu, estarão muitos dos grupos que insistem em criar, apesar de todas as dificuldades e limitações impostas por uma política cultural que aposta na mercantilização do sector. A sua presença é um estímulo a que prossigam e uma afirmação do que se poderia e deveria ser (e já é em muitos concelhos do País) uma política cultural assente no apoio à criação e aos criadores, na diversidade e na qualidade das produções.




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