Os artistas também são construtores da Festa
CULTURA Tal como já sucedera em Lisboa em finais de Junho, também no passado dia 26, no Porto, a conferência de imprensa de divulgação do programa da Festa do Avante! contou com a presença de alguns dos artistas que marcarão presença na Atalaia no primeiro fim-de-semana de Setembro, eles próprios construtores desta realização ímpar em Portugal.
Os artistas estão com elevadas expectativas quanto à Festa
A Festa do Avante! – não é demais repeti-lo – é uma iniciativa sem paralelo, pelo menos em Portugal. E é única por múltiplas razões: pela forma como é construída, com trabalho voluntário de comunistas e amigos; pelos ideais de liberdade, fraternidade, igualdade e paz que a enquadram e lhe dão sentido; pelo ambiente fraterno que ali se vive ao longo de três dias; pela diversidade e qualidade do seu programa e pela forma esmerada e dedicada como os artistas que o compõem nela participam, ano após ano.
Não que os artistas sejam, na Festa, mais profissionais do que noutros eventos, mas há qualquer coisa de especial nas suas actuações que faz delas momentos irrepetíveis tanto para o público como para os próprios. A conferência de imprensa do passado dia 26, no Porto, foi o momento certo para tentar perceber que «coisa» é essa, pois à semelhança do que sucedeu em Lisboa um mês antes, após as intervenções iniciais de Alexandre Araújo e Rúben de Carvalho, dois dos responsáveis pela Festa do Avante!, a palavra foi dada aos próprios artistas.
Uns, mais novos, vão pisar pela primeira vez o recinto da Festa – e logo para actuar; outros são presença regular, se não nos palcos, na fruição da própria Festa. Todos eles têm as melhores expectativas para os concertos. Espelhando a própria diversidade musical e geracional da Festa do Avante!, os artistas presentes exprimiram-se, cada um à sua maneira, do significado de actuar na Festa do Avante!. Mas deixemos falar os artistas...
Sonhos antigos e dobradinhas
Adolfo Luxúria Canibal, que dá voz aos Mão Morta, realçou que tocar na Festa «era um objectivo» antigo da banda, que por diversas razões nunca tinha sido possível concretizar. O facto de a estreia ocorrer este ano, em que se comemora o centenário da Revolução de Outubro, tem um significado especial para o vocalista: «Independentemente de sermos ou não comunistas, qualquer amante da Humanidade, qualquer democrata, devia comemorar a Revolução de Outubro. Foi um dos acontecimentos que mudou completamente a consciência da Humanidade, e para melhor.» Mas há outras razões, assume: «está a ser um ano muito cheio de concertos e estar na Festa é a “cereja no topo do bolo”.»
Apesar de nunca lá ter actuado, Adolfo Luxúria Canibal foi uma presença assídua nos primeiros anos da Festa do Avante! e também já esteve na Atalaia. O que mais guarda é o «ambiente muito peculiar», onde se valoriza e partilha a diversidade do ser humano. «Toda a gente é bem acolhida e tem espaço para si».
Depois da presença em 2015, a rapper portuense Capicua volta este ano à Festa para dois espectáculos: Mão Verde, no Auditório 1.º de Maio (voltado para o público mais novo), e Língua Franca, projecto em que actua ao lado dos parceiros de ofício Valete, Emicida e Rael, os dois últimos oriundos do Brasil. Esta «dobradinha» é motivo de satisfação para a cantora e compositora, que se confessa «feliz por fazer parte do cartaz» e promete que em ambas as actuações procurará contribuir para «fazer uma grande Festa»...
Sobre Língua Franca, projecto muito elogiado por Caetano Veloso, Capicua realça a mistura feliz das diferentes sonoridades do hip-hop feito em Portugal e no Brasil.
Este ano, Capicua quer ficar mais tempo na Festa, onde, para além dos seus próprios concertos, «quero ver outros espectáculos, quero ver a Festa».
Expectativas elevadas
Manuel Roxo integra a banda Amparanoia (da cantora espanhola Amparo Sanchez), que muito embora nunca tenha actuado na Festa «integra-se perfeitamente» no seu espírito, «pelo compromisso político ao lado dos mais desfavorecidos» que claramente assume. Muito embora nunca tenha pisado um palco da Festa enquanto músico, Manuel Roxo é presença regular na Festa do Avante!, que garante ser «exemplar» e um «modelo a seguir para outras festas». Pela qualidade e ecletismo do seu programa, a Festa é, em sua opinião, «uma referência muito importante».
Para os The Black Wizard, uma jovem banda rock do distrito de Braga, o concerto da Festa do Avante! será, seguramente, o maior até agora. Apesar disso, reconhecem, não é nervosismo que sentem, é felicidade. «Nunca fomos à Festa, mas toda a gente nos diz que é a melhor festa de Portugal, por isso as expectativas são muito altas», garantem os jovens músicos, que lançam um álbum a 1 de Setembro, dois dias antes do seu concerto no Palco 25 de Abril. Curiosamente, os The Black Wizard tentaram ir à Festa há uns anos, por intermédio do concurso de bandas da JCP, mas não venceram a necessária eliminatória. Agora, «formos convidados e ficámos muito contentes».
Quem vai actuar precisamente no Palco Novos Valores após ter ganho a final regional de Braga são os Boca do Povo, uma banda que apesar de ser recente já tem um registo editado. Entre agradecimentos à JCP, por quem foram sempre «muito bem recebidos», três dos integrantes da banda confessam o seu entusiasmo por irem actuar na Festa: «É a primeira vez que vamos à Festa do Avante!. Já ouvimos falar, mas nunca fomos. A expectativa é alta, deve ser uma coisa muito grande». Nem imaginam...
Qualidade, diversidade e fruição
Alexandre Araújo, do Secretariado do Comité Central do PCP, sublinhou na sua intervenção a diversidade e qualidade do programa da Festa do Avante!, não só no que à música diz respeito, mas também no teatro, nas artes plásticas, no desporto e na intervenção política. Os 10 palcos existentes, as 30 modalidades desportivas representadas, os 60 debates sobre diversas temáticas e os 120 participantes na Bienal de Artes Plásticas foram aspectos sublinhados pelo dirigente comunista, que realçou ainda as melhorias implementadas no ano passado ao nível das condições de acolhimento dos visitantes e do acampamento, das soluções encontradas para as excursões e para as pessoas com mobilidade reduzida e para a participação das famílias com crianças e bebés.
Rúben de Carvalho, do CC, reconheceu a justiça inerente à realização, no Porto, da apresentação do programa da Festa, não só porque nela participa cada vez mais gente oriunda de todo o País como também pela marcante presença de artistas e grupos do Norte. Se este não é um facto novo, realça, ele é «cada vez mais marcante». Quanto ao programa deste ano, ele é marcado uma vez mais pela «grande variedade que ao longo de 40 anos conseguimos que a Festa assumisse». De Shostakovich a hip-hop – tal é a largueza do espectro musical da Festa, pois o que importa, para Rúben de Carvalho, «é que haja quem faça música, e bem, e que haja público que a oiça com gosto».