Barómetro de altas pressões

Carlos Gonçalves

O barómetro do último Expresso é sobre legislativas mas prenuncia um crescendo de pressões para as eleições autárquicas.

O barómetro conclui que PS e PSD estão a subir, com o PS quase em 40%, que PCP e CDS descem e que o BE desce menos. O objectivo é convencer o PS de que, em legislativas, pode chegar à maioria absoluta, que as autárquicas vão facilitar a bipolarização PS-PSD, e que a promoção com a colaboração do BE é instimável para tapar o PCP.

É claro que quem contrata, interpreta e decide os títulos das sondagens é o poder económico-mediático, que se orienta por interesses de classe.

As manipulações são incontáveis: Cavaco na primeira eleição não seria PR sem as sondagens; em 2015, PSD/CDS perderam mas foram favorecidos por sondagens de «quase maioria absoluta»; há uns anos, a Marktest e o DN/TSF sondaram autárquicas em Lisboa, Oeiras, Porto, etc., sempre com previsões inferiores nos resultados da CDU e superiores nos do BE (e vai voltar a acontecer).

Há sondagens sérias, é verdade, mas só permitem estimar a realidade no intervalo de valores da margem de erro, e isto se a pergunta for clara, com método aleatório, amostras dimensionadas e estratificadas a nível geográfico, social, etário, de género e de voto, se a inquirição for fiável e a estimação de abstenção e distribuição dos não respondentes e indecisos for conforme com a realidade.

No caso do barómetro do Expresso, a amostra é escassa e não estratificada social e politicamente – até esquece a CDU –, a inquirição telefónica não é fiável, a abstenção é irrisória (19,3%), a distribuição de não respondentes prejudica o PCP, não tem sentido que o PSD suba quando Passos Coelho sobe (!) e o PCP caia quando Jerónimo de Sousa também sobe. E a margem de erro implica que qualquer força pode obter mais ou menos 1,5 pontos percentuais – isto muda tudo.

E o que muda ainda mais é o reforço do PCP e da CDU em 1 de Outubro e na luta por uma política patriótica e de esquerda.




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