De besta a bestial
A vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas de 2016 e a sua entrada na Casa Branca em Janeiro último foram acompanhadas, de um lado e de o outro do Atlântico, por um coro ensurdecer de comentários, qual deles o mais preocupado. Populista, ignorante, racista, xenófobo, machista foram apenas alguns dos epítetos usados para definir o novo presidente dos EUA, cujo não passaria de uma grandessíssima besta que graças a uma campanha sem escrúpulos havia conseguido enganar o eleitorado. As análises ao «dia seguinte» à derrota de Hillary Clinton – essa democrata da mais pura água que como senadora votou a favor e apoiou as acções militares no Afeganistão e no Iraque, e como Secretária de Estado implementou as chamadas primaveras árabes, a intervenção militar na Líbia e as sanções internacionais contra o Irão, entre outras coisas – pintavam o mundo com cores sombrias. Ninguém sabia como seria e toda a gente temia o mandato do presidente que mostrava querer governar através do twitter, onde em meia dúzia de caracteres prometia subverter o establishment, que é como quem diz acabar com a ordem mundial estabelecida, que como toda a gente sabe se pauta pelo respeito e pela solidariedade das grandes potências para com o resto do mundo.
Estavam as coisas neste pé, com o futuro da humanidade suspenso dos humores da besta, quando de repente um raio de esperança brilhou no horizonte. Trump mandou bombardear uma base aérea na Síria como retaliação de um ataque com armas químicas que ninguém investigou mas toda a gente sabe ter sido ordenado pelo governo sírio, talvez para apimentar o combate bem sucedido contra os terroristas do chamado Estado Islâmico. Mais, Trump mandou avançar o porta-aviões nuclear norte-americano USS 'Carl Vinson' para a península coreana, numa clara ameaça à Coreia do Norte. As reacções não se fizeram esperar de um lado e de o outro do Atlântico: Trump é bestial, o mundo pode respirar de alívio. A continuar assim até merece o Nobel da Paz.