Das supervisões…

Ângelo Alves

Ao que parece ainda vai correr muita tinta sobre dois «factos políticos» (como agora se diz): os SMS’s e a nova comissão de inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos; e o escândalo dos 10 mil milhões de euros que passaram ao estreito da supervisão do Estado

O tema dos SMS’s trocados entre Centeno e Domingues - cujo conteúdo, ao que parece, já muita gente conhece - irá ser explorado por PSD e CDS até ao limite e a novela irá prosseguir. Mas nada irá ser dito (a não ser pelo PCP) sobre o essencial da questão. E o essencial é que essa e outras trapalhadas decorrem do facto de o Governo português estar impedido de decidir e soberanamente sobre a forma e os meios com que gere o banco público e como intervém no sistema financeiro nacional. Os SMS’s existem porque a Comissão Europeia e o BCE impuseram a Portugal um conjunto de «regras» para a recapitalização da CGD, incluindo a de poderem decidir da composição da sua Administração e modelo de negócio. O que deveria estar a ser discutido é se é justo e legal que um Governo aceite essas imposições travestidas de «supervisão».

No caso das transferências para offshore é por demais óbvio que Paulo Núncio, Maria Luís Albuquerque e todo o governo PSD/CDS (incluindo a senhora Cristas da «política positiva») são responsáveis pelo facto de o governo ter decidido não supervisionar 80% das transferências para offshore no período 2011-2014. Mas o problema vai muito para lá da responsabilização daqueles de quem já se sabe há muito a que dono obedecem. O grande problema é o facto de o poder político estar cada vez mais submetido aos interesses do grande capital, nomeadamente estrangeiro, e de se multiplicarem os escândalos que envolvem os grandes grupos económicos e que demonstram a promiscuidade entre estes e os governos. E é exactamente isso que tem de ser discutido! Nomeadamente, o facto de um punhado de milionários, ou grupos económicos, poderem transferir para fora do País dezenas de milhares de milhões de euros que resultam do trabalho de todos nós! Isso não devia ser supervisionado, devia, pura e simplesmente, ser proibido!




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