Há festas e Festas…

Manuel Gouveia

São hoje apresentados os resultados líquidos do Grupo EDP. Com a habitual pompa e circunstância, serão anunciados lucros de cerca de mil milhões de euros.

A festa justifica-se. Os que nela participam têm todas as razões para celebrar. Os administradores porque vão receber uns milhões cada um, os accionistas porque recebem 676,5 milhões como dividendos, a comunicação social dominada porque continuará a receber uns anúncios bem gordos, e até haverá motivos de festejo para alguns «representantes dos trabalhadores», daqueles modernaços, que fazem jogo combinado com o patrão para destruir a contratação colectiva e generalizar a precariedade.

À porta da festa estará o PCP. Preparando o dia em que o povo português acabará com a festa.

Denunciando que os lucros que os accionistas (12% capitalistas portugueses, 88% estados e capitalistas estrangeiros) dividem entre si são o produto de uma rapina, com custos concretos para os trabalhadores, para os utentes e para o País.

Com custos para os cada vez menos trabalhadores da própria empresa, com uma erosão progressiva dos salários e direitos, e custos ainda maiores para os milhares de trabalhadores precarizados nos prestadores de serviço e nas empresas de trabalho temporário. Com custos para os utentes pois pagam das electricidades mais caras da Europa (só Bélgica, Dinamarca, Alemanha e Itália têm preços nominais superiores aos portugueses, mas com salários muito superiores) e são quem na realidade paga os impostos de que tanto se queixam os administradores da EDP. Com outros custos para o país, como os 20 mil milhões de dívida que a empresa acumula, como a perda de comando de alavancas fundamentais para o desenvolvimento e as perdas de eficiência geradas por uma liberalização pulverizadora orientada para o crescimento da exploração.

Renacionalizar, reunificar, recolocar os trabalhadores no controlo do processo produtivo. Os três R's da ruptura que se impõe na EDP como num vasto conjunto de empresas estratégicas privatizadas. Um processo urgente e necessário, que ultrapassa os limites da actual solução política, mas para o qual é fundamental continuar a acumular força. Vai ser bonita a Festa, pá!




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