Mais manobras marroquinas
Marrocos retirou as suas tropas da zona de Guergarate, na fronteira do Saara Ocidental com a Mauritânia, depois de semanas de tensão com as forças da Frente Polisário.
Marrocos tem sabotado continuadamente o trabalho da ONU
O governo de Rabat anunciou a retirada, a 26 de Fevereiro, das tropas marroquinas de Guergarate, no Saara Ocidental, junto à fronteira com a Mauritânia. A zona foi teatro de tensões, nos últimos meses, entre unidades militares de Marrocos e da República Árabe Saarauí Democrática (RASD).
O secretário-geral das Nações Unidas mostrara-se «profundamente preocupado» com a situação e tinha feito um apelo a ambas as partes no sentido de «evitar a escalada». Tinha havido uma conversa telefónica entre Mohammed VI e António Guterres em que o monarca se queixou de «repetidas incursões de elementos armados da Polisário» e pediu à ONU «medidas urgentes».
Na zona em questão, a pretexto de «lutar contra o contrabando», o exército de ocupação marroquino tinha começado, em Agosto, a construir uma estrada para além do seu «muro de defesa», uma barreira que separa a zona dominada por Marrocos das áreas controladas pela Frente Polisário. A tensão era crescente, com a presença de forças militares de ambos os lados separadas por uma centena de metros.
No comunicado divulgado por Rabat, Marrocos pede a intervenção do secretário-geral da ONU para «garantir a fluidez do tráfico rodoviário na zona e, assim, salvaguardar o cessar-fogo».
Por seu turno, a Frente Polisário, que combate pelo direito do povo saarauí à autodeterminação e independência, pelo fim da ocupação do Saara Ocidental e pelo reconhecimento da RASD, classificou a retirada das tropas marroquinas de Guergarate de uma tentativa de Rabat atirar «areia para os olhos».
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da RASD considera que não deve haver tráfico comercial na zona contestada, uma vez que ela está sob controlo das Nações Unidas. «No momento do cessar-fogo, não havia nem estrada nem tráfico comercial entre o muro de ocupação marroquino e a fronteira mauritana», relembra, em comunicado publicado a 27. E mais: Guerguerat não é um caso isolado mas parte de um conflito que deve ser resolvido através de um referendo de autodeterminação, acordado em 1991. Nesse ano, foi criada a Missão das Nações Unidas para o Referendo do Saara Ocidental (Minurso), mas Marrocos tem sabotado continuadamente o trabalho dos representantes da ONU, impedindo até agora a consulta ao povo saarauí.
Ofensiva económica
Em 30 de Janeiro, Marrocos foi admitido na União Africana, na cimeira de Adis-Abeba, depois de se ter retirado da organização sua antecessora, a OUA, protestando contra o reconhecimento da RASD pela maioria dos países africanos.
Na semana passada, Marrocos pediu a adesão à Comunidade Económica dos Estados da África do Oeste (Cedeao), confirmando a intenção de «reforçar o pólo do Noroeste africano», segundo a revista Jeune Afrique.
Ao mesmo tempo, Mohammed VI multiplica as visitas a países africanos, assinando centenas de acordos de cooperação económica. Nos últimos anos, efectuou 23 visitas a 11 países da África Ocidental. Só na segunda quinzena de Fevereiro, esteve na Zâmbia, na Guiné e na Costa do Marfim.
Apesar de todas as manobras políticas, do poder económico e do poderio militar do reino de Marrocos, um fiel aliado do imperialismo em África, o povo saarauí acabará por triunfar, libertando-se da ocupação colonial, exercendo o direito à autodeterminação e consolidando a independência.