Defrontamos

Henrique Custódio

«Nós continuaremos a trabalhar para que toda a verdade seja possível», declarou Assunção Cristas, líder do CDS, ainda e sempre a propósito da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Mas a verdade que Cristas «continua a trabalhar» para a ter «toda», nada tem a ver com a realidade ou problemas da Caixa, concentra-se nos emails trocados hipoteticamente entre o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o ex-director da Caixa que-não-chegou-a-sê-lo, António Domingues. Essa relação, que já não existe e conta zero para a realidade da CGD, é que interessa a Cristas, que comenta ainda as declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao diário espanhol El País, louvando a estabilidade que se vive em Portugal e entre os diversos órgãos de poder. «É uma estabilidade que faz mal ao País», decretou Cristas, acrescentando que «o mais grave para o País é Mário Centeno não se demitir». E está tudo dito. Para Cristas, tanto faz dar-lhe na cabeça como na cabeça lhe dar, desde que se continue a dar na cabeça de Mário Centeno.

Passos Coelho vai na esteira, embora se esforce por untar a dicção de solenidade e força na voz. Mas tartamudeia no mesmo, como Cristas. «O que se passa com a Caixa é consequência do regresso da má política», decidiu ele, prosseguindo com as diatribes em uso contra Mário Centeno e escorregando numa auto denúncia cuja sanha soou irreprimível, na sua torturada alma: «O PS não quis governar connosco, não quer governar connosco», agora amanhe-se! rematando dolorosamente «ser oposição, sim, ser parvo é que não!».

Que se há-de fazer? A criatura continua convencida de que ganhou as eleições e continua com o engulho de não ser o chanceler do reino...

O ridículo destes argumentos como instrumento de fazer oposição não deve obliterar a causa primeira (e agora escondida) que os inspira: o projecto de privatizar a CGD, após a exaurir com intermináveis tricas transformadas em crises artificiais.

Esta «campanha dos emails» conduzida furiosamente pelo PSD de Passos Coelho e o CDS de Assunção Cristas é um deplorável argumentário para os efeitos pretendidos pelos seus autores, mas um forte argumento a indiciar os reais objectivos dos mesmos, pelo que se pode concluir que as actuais direcções dos partidos de direita militam na destruição da Caixa Geral de Depósitos como um banco público ao serviço de Portugal, do povo e da economia portuguesa.

Dito de outra forma, estes partidos de direita representam os interesses capitalistas que procuram há décadas cavalgar o maior banco nacional, destruindo-o como banco público, fragmentando-o e integrando-o na banca privada monopolista e transnacional e privando o nosso País de um instrumento fundamental para promover o desenvolvimento e a autonomia do País.

É isto que defrontamos.




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