Com tradições

O XX Con­gresso do PCP mo­tivou uma forte mo­bi­li­zação me­diá­tica – de jor­na­listas a co­men­ta­dores. Muitos já ti­nham ana­li­sado e co­men­tado con­gressos do PCP, mas para al­guns foi uma es­treia ir lá, de facto.

A su­cessão de di­rectos, par­ti­cu­lar­mente das in­ter­ven­ções do Se­cre­tário-geral, po­de­riam ser um es­pelho de­ma­siado lím­pido para quem acom­pa­nhou o Con­gresso a partir de casa, por isso foi cru­cial que uma horda de co­men­ta­dores «fa­ci­li­tasse» a «com­pre­ensão» do­més­tica.

Uma tese cen­tral marcou todo o tra­ta­mento me­diá­tico: a con­tra­dição entre um par­tido que se afirma re­vo­lu­ci­o­nário, van­guarda da classe ope­rária, com o ob­jec­tivo su­premo de cons­trução do so­ci­a­lismo, e a Po­sição Con­junta as­si­nada entre PS e PCP. A partir desta tese houve lugar para todo o tipo de de­ri­va­ções, car­re­gadas de anti-co­mu­nismo mal dis­far­çado: o que in­te­res­saria neste Con­gresso era saber se o Go­verno dura ou não quatro anos, e não os ideais que se pro­clamam; o PCP seria um par­tido do­mes­ti­cado, su­a­vi­zado; ale­gada con­tra­dição entre manter iden­ti­dade e aprovar o Or­ça­mento do Es­tado; o PCP pode dizer que não está no go­verno, mas isso seria dis­curso para dentro; aplaudem o «di­tador» Fidel mas vi­a­bi­lizam o cum­pri­mento do Tra­tado Or­ça­mental; anun­ciam um ca­derno de en­cargos im­pos­sível, é tudo con­versa.

Cu­ri­o­sa­mente, muitas destas de­ri­va­ções pau­taram e pautam as crí­ticas do PSD – ora diz que o PCP está do­mes­ti­cado, ora que PS está ra­di­ca­li­zado. Com a car­tilha das con­tra­di­ções a ter pouco eco no Con­gresso pro­pri­a­mente dito, chegou até a co­mentar-se numa te­le­visão: se não houver crí­ticas é me­lhor que a or­ga­ni­zação trate de ar­ranjar al­guém que o faça, caso con­trário, até pa­rece mal.

Es­go­tada a tese, so­brou o fait-di­vers, entre o es­panto e o desdém: o con­gresso «morno», o ri­go­roso cum­pri­mento de ho­rá­rios, o facto de o con­gresso «só» ocorrer de quatro em quatro anos, as in­ter­ven­ções serem es­critas e com os tempos cum­pridos, as vo­ta­ções unâ­nimes, a rá­pida des­mon­tagem do pa­vi­lhão – a «má­quina» co­mu­nista, sempre de­su­ma­ni­zada, num con­junto não de in­di­ví­duos ca­pazes e li­vres, mas uma massa uni­forme e acrí­tica.

Tra­dição, tra­dição, só mesmo estes tru­ques da im­prensa por­tu­guesa.

 



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