Sobre rodas
Será que o PSD sabe quantas pessoas foram forçadas a emigrar – no léxico da época o correcto seria dizer «deixar a sua zona de conforto» – nos quatro anos de governo PSD/CDS? E quantos reformados, pensionistas e idosos deixaram de ter acesso aos transportes públicos devido aos cortes nas suas magras pensões? E quantas carreiras de autocarro foram cortadas na capital do País e quantas carruagens de Metro e barcos da Transtejo e da Soflusa deixaram de funcionar por falta de peças e/ou de trabalhadores enquanto o Executivo de Passos lubrificava a via para a privatização dos transportes de passageiros? E quantos portugueses perderam o direito à mobilidade (e à casa, e à saúde, e à dignidade das condições de vida...) por terem sido despedidos? E quantos estudantes perderam o passe escolar? E quantos portugueses perderam o acesso à Justiça e à Saúde porque o governo de Passos/Portas/Cristas encerrou tribunais, hospitais, centros de saúde e cortou no transporte de doentes por esse País fora?
Não, o PSD não deve saber, seja porque nunca lhe interessou uma tal contabilidade, como Luís Montenegro ilustrou com a célebre afirmação «a vida das pessoas não está melhor mas a do País está muito melhor», seja porque a política que sempre norteou o defunto governo foi a de empobrecer os portugueses, seja ainda porque no que toca a contas o PSD revela uma acentuada tendência para eliminar parcelas incómodas. Isso mesmo voltou a ficar patente no vídeo que o PSD/Lisboa lançou a semana passada contestando a construção de ciclovias na capital.
Segundo a peça, que garante ser sobre «prioridades» e «mobilidade», o PSD passou cinco dias a contar as bicicletas que circulam nas ciclovias existentes em Lisboa e só teve de usar cinco dedos. Nem mais, cinco dias, cinco bicicletas. Como não explica a metodologia usada para cobrir e filmar, 24 horas sobre 24 horas, as dezenas de quilómetros de ciclovias existentes, e o vídeo só dura um minuto em alta velocidade, fica-se com a sensação de que esta «preocupação» com a mobilidade tem tantas rodas para andar como a convicção de Passos Coelho de que é um primeiro-ministro no exílio. Sem perceber que os portugueses ofereceram de bandeja ao PSD a «mobilidade» para ir de carrinho... aprender a contar.