Prémio «Olha que dois!»

João Frazão

O senhor Lopes e o senhor Silva são dois dirigentes de organizações ditas respeitáveis com assento na Concertação Social.

Lopes, João Vieira de seu nome, lidera a Confederação do Comércio de Portugal. Silva, Carlos, para os amigos, é o secretário-geral da UGT.

Supostamente, Lopes e Silva andariam de candeias às avessas porque representam interesses que não apenas não coincidem como se chocam sobremaneira. Um defende a maximização, a todo o custo, do lucro dos seus associados, o outro era suposto defender os interesses e direitos dos seus.

Aliás, bastaria ouvir o senhor Lopes em entrevista a afirmar que aumentos salariais e direitos laborais representam «retrocessos», para admitir que o senhor Silva fosse ficar com os cabelos em pé.

Quando se fala do aumento do salário mínimo nacional, Lopes diz, «nem pensar! As empresas não aguentam». A não ser que o «Governo dê contrapartidas»! Ou seja, estão disponíveis para ceder uma chouriça desde que o Governo lhes ponha um porco à disposição!

E a provar o que diz, Lopes invoca mesmo que se tivermos em conta a inflação este ano, o aumento não passaria de uns trocados, assim como que a estabelecer linhas vermelhas, ao mesmo tempo que diz não querer avançar com números.

E sobre isto, o que diz o senhor Silva? Que se quiséssemos manter o mesmo nível de poder de compra do momento em que foi criado, em 1974, o SMN devia ter ultrapassado os 600 euros já há dois anos? Que um SMN de 600 euros seria não apenas justo socialmente como viável economicamente e ajudaria a dinamizar, em primeiro lugar as empresas da área do comércio, que o cavalheiro Lopes representa?

Nem por isso. Sobre a matéria, Silva, o sindicalista de ocasião, o concertador, diz que admite negociar mesmo abaixo da baixa proposta que o Governo avançou.

Nada disto constitui novidade. Mas ainda assim, vale a pena ficar o registo para memória futura.

Um e outro cumprem os papéis para os quais as suas estruturas foram criadas. Só que a organização de Lopes defende os interesses de classe dos seus associados. Já a de Silva confirma aqui o papel divisionista, contra os direitos e interesses dos trabalhadores, para que foi criada.




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